quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

HISTÓRIA DO LIVRO DOS JUÍZES DA BÍBLIA.

A HISTÓRIA DOS JUÍZES.
O Livro dos JUÍZES foi assim chamado pelo grande relevo que nele têm os chefes a quem se deu tal nome . Praticamente o livro é constituído por doze histórias correspondentes aos doze juízes que nele desfilam aos olhos do leitor.

CONTEXTO HISTÓRICO: Depois da sua chegada a Canaã e do seu estabelecimento no território, como está descrito em Josué, as doze tribos ficaram um pouco à mercê dos povos que ainda ocupavam a terra. Cananeus e filisteus continuavam a sua luta para expulsar as tribos israelitas que se tinham infiltrado em algumas parcelas do seu território; e a conquista total da terra e o conseqüente predomínio dos israelitas sobre os povos locais ficará para mais tarde, no tempo de David (séc. X a.C.). 
Depois da morte de Josué, por volta de 1200 a.C. (Js 24), as tribos ficaram sem um chefe que aglutinasse todas as forças para se defenderem dos inimigos estrangeiros.
A única autoridade constituída era a dos anciãos de cada tribo. Além disso, estas pequenas tribos eram muito independentes entre si, e não era fácil congregá-las.
Ficavam, assim, mais expostas aos ataques de filisteus, cananeus, madianitas, amonitas, moabitas, todos inimigos históricos de Israel.

QUEM SÃO OS JUÍZES: É nestas circunstâncias que aparecem os Juízes. Não são chefes constituídos oficialmente, mas homens e mulheres carismáticos, atentos ao Espírito do Senhor, pessoas marcadas por uma forte personalidade, capazes de se imporem moralmente perante as outras tribos.
Deste modo, quando alguma tribo era atacada, o Juiz congregava as outras para irem em socorro da tribo irmã. Uma outra função que lhes poderia ser atribuída era a de julgar (da raiz chaphat, que significa "administrar a justiça", "proteger"), em casos especiais, função que terá estado na origem do nome de "Juízes". O tempo dos Juízes é, pois, o tempo da consolidação das tribos no seu território, perante os inimigos estrangeiros, e o tempo das primeiras tentativas de federação entre as várias tribos com diferentes origens (ver Js 24).

 VALOR HISTÓRICO: O livro dos JUÍZES é um dos chamados "Livros Históricos" da Bíblia, mas é histórico segundo o modo de escrever História no seu tempo. Nesse gênero  literário cabiam não apenas os fatos e os documentos, como acontece na historiografia moderna, mas também o mito, discursos (veja-se o belo apólogo de Jotam: 9,7-20), etiologias, pequenos fatos do dia a dia, etc. Este livro fornece-nos um quadro geral único do modo de vida das tribos de Israel, depois da instalação em Canaã, no que toca à vida política, social e religiosa. É também interessante o fato de nos falar já do difícil relacionamento entre algumas tribos, que irá ter o seu desenlace na separação entre o Norte e o Sul, depois de Salomão.
O tempo dos JUÍZES corresponde a mais de dois séculos de História, o que lhe confere um valor especial, embora a contagem dos anos fornecidos pelo texto nos dê exatamente 410 anos. Este fato é certamente devido ao uso corrente do número simbólico 40, que significa uma geração, isto é, a vida de uma pessoa. Esta indicação diz-nos bem do caráter aproximativo dos dados cronológicos do livro. A cronologia real da época dos JUÍZES nunca poderá afastar-se muito do período entre 1200 e 1030.

TEOLOGIA: Como qualquer livro da Bíblia, também o dos JUÍZES não foi escrito para nos fornecer simplesmente a História factual das tribos de Israel. Antes de mais, foi escrito para manifestar como Deus acompanha o seu povo na sua história concreta, mesmo no meio dos mais graves acontecimentos, como as guerras contra os povos inimigos. A sua teologia fundamental é proposta pelos redatores deuteronomistas nas Introduções (1,1-3,6), em que aparecem fórmulas características como "os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor" (2,11; 3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1).
Desta infidelidade do povo ao Deus fiel da Aliança segue-se o castigo, que aparece nas derrotas perante os povos estrangeiros; e depois, a vitória, mediante os intermediários do Senhor, os Juízes "salvadores" (3,31; 6,15; 10,1). A idéia  teológica que ressalta deste livro é, pois, a imagem que um povo livre tem de Deus, que o acompanha para o libertar. Não nos devem escandalizar os "pecados" destes Juízes, homens rudes que precisamos de situar no seu tempo e que procedem segundo a moral de então. Caso paradigmático é a história de Sansão. Teremos que tentar, antes, descobrir o que há neles de positivo: a ação de Deus, que os anima com o seu espírito para conduzir o povo de Deus (3,10; 6,34; 11,29; 13,25). Neste sentido, eles foram uma antecipação dos reis de Israel.




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