terça-feira, 10 de maio de 2011

O Leitor ( 6ª parte )

Dar a Vida ao texto

O tema a abordar neste texto é: o Leitor dá vida ao texto. Este texto é a Palavra de Deus, escrita ao longo de muitos séculos e que está contida na Bíblia, que é constituída por 73 livros: 46 escritos antes de Cristo, o Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, escritos depois de Cristo. De entre estes, destacam-se os 4 Evangelhos: S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas e S. João.
Grande parte dos livros da Bíblia é lida nas assembleias eucarísticas, semanais e dominicais. A primeira função do leitor, é, pode dizer-se, dar vida a esses textos, tão diferentes quanto ao conteúdo e quanto ao estilo literário, e que o leitor deve conhecer antes de ler, ou melhor proclamar, na assembleia.
Ler bem não é fácil, implica re-criar, dar vida às palavras do texto, dar voz ao autor, que é o próprio Deus, como se afirma ao terminar a leitura: Palavra do Senhor. Pode comparar-se a função do leitor à de um músico (pianista, violinista…) que, ao executar o trecho de outro compositor, não é um simples executante de notas musicais, mas imprime aos sons que se ouvem o sentido, a vida, a expressão, o sentimento que o compositor quis dar àquela peça. Ler, mais que pronunciar palavras soltas, é tornar viva uma mensagem que é de vida.
Depende muito do leitor que os ouvintes escutem ou não a Palavra e se deixem interpelar por Deus que nos fala. Contudo, não se trata só que todos ouçam, mas que entendam o que ouvem, captando a mensagem no seu sentido profundo e lhe respondam convictamente: graças a Deus…
É um ministério difícil. Por vezes a leitura não é fácil e os ouvintes nem sempre estão motivados e preparados para entender o núcleo do texto. Se, a juntar a isto, o leitor incorre em defeitos comuns: a precipitação, a má pronúncia, o tom monótono, mau uso do microfone, a pressa…, cai-se, então, no risco de a celebração da Palavra ser pouco mais que um momento da missa, rotineira e ineficaz, sem impacto algum e sem eco na mente e no coração dos que ouvem.
Por isso se insiste na necessidade de o leitor preparar sempre o que vai ler, conhecer a passagem bíblica, o seu estilo, as frases mais importantes, as expressões mais difíceis. Não bastam cinco minutos antes, mas, se possível, ter o texto em casa. Aliás com os meios de comunicação que temos ao alcance não será tão difícil assim.
Uma sugestão, que nos parece viável e que alguns leitores já fazem: ler, antes, em voz alta diante de alguém e perguntar se entendeu ou não. Pode ajuda!

O Leitor ( 5ª parte )

A Pontuação

Escrevíamos, na última edição, que um dos aspectos mais importantes a cuidar, na proclamação da Palavra de Deus, é a pontuação. Esta marca o ritmo, os silêncios, as pausas no decurso da leitura, que, por sua vez, permitem a compreensão e dão sentido às diversas frases que constituem o texto proclamado.
Pode o leitor pronunciar bem cada uma das palavras, mas se não “organizar” bem as palavras na frase, dando mais ênfase a umas do que outras, se não articular as frases entre si, o texto tornar-se-á incompreensível. Para que isto não suceda, é fundamental executar correctamente a pontuação: vírgulas, ponto e vírgula, ponto final, ponto de exclamação, de interrogação, bem como o estilo e carácter do texto: crónica, exortação, louvor…
É necessário, portanto, numa vírgula e, regra geral, no ponto e vírgula fazer-se uma pausa breve; num ponto final uma pausa mais longa; numa exclamação exclamar, admirar, louvar…o que implica uma leitura antecipada do texto; numa interrogação, que se ouça, de facto, que há uma interrogação que, nalguns casos pode ser afirmativa.
Dois exemplos: «Voltaram os setenta e dois discípulos, (pausa breve) cheios de alegria. (pausa longa)» (Lc 10,17). Fazendo mal as pausas, pode ler-se o que o texto não quer transmitir: «voltaram os setenta, e dois discípulos cheios de alegria», significa que só dois vinham alegres, o que não corresponde à verdade do texto, pois todos os 72 estavam alegres.
Também na 2ª leitura da Solenidade do Corpo de Deus, lida recentemente, a pontuação bem feita é fundamental: «Não é o pão que nós partimos a comunhão com o Corpo de Cristo?» (1Cor 10,16). A interrogação, neste caso, é mais afirmativa que interrogativa. Se em vez da interrogação fazemos um ponto final, ou uma vírgula, afirmamos precisamente o contrário do que o texto significa: que o pão que partimos não é a comunhão com o Corpo de Cristo…E S. Paulo queria dizer o contrário: que o pão que partimos é comunhão! As mesmas palavras, pontuação diferente, sentido oposto.
Muitos outros exemplos poderiam ser indicados. É fundamental, não no momento, mas antes, ler sempre o texto e entendê-lo. Se o leitor não compreende o que lê, dificilmente a assembleia perceberá.
Claro que, além das pontuações referidas, que determinam as pausas, entoações e modulações da voz, devem ter-se em conta algumas pausas mais longas: após o enunciado da leitura: «Leitura da Primeira Epístola…aos Gálatas» (pausa longa); ou: «meus irmãos» (pausa longa), ainda que conste uma vírgula e não um ponto final, bem como no final, antes de proclamar «Palavra de Senhor».
Uma sugestão: Se pegar no Leccionário e, ao acaso, ler algumas leituras, olhando bem os diversos tipos de pontuação, executar de forma correcta e depois incorrecta, o leitor confirmará o que acabámos de frisar.
Juntamente com a pontuação, fundamental para uma boa compreensão do texto.

O Leitor ( 4ª parte )

Alguns cuidados

Como se depreende de tudo o que aqui temos escrito, desempenhar bem, e de forma consciente, o ministério de leitor é exigente, não é tarefa fácil. Muito caminho se percorreu, estamos certos, mas há pormenores, aparentemente insignificantes, que podem contribuir para um melhor ou pior desempenho. Assim, deixamos breves notas sobre alguns cuidados a ter para uma melhor proclamação da Palavra
No início da leitura, o leitor não tem que dizer: primeira leitura ou segunda leitura ou, quando é lido: salmo responsorial, como o sacerdote não diz, por exemplo: homilia. O leitor enuncia com clareza o nome do livro bíblico de onde é tirada a leitura: «Leitura da Profecia da Isaías»; «Leitura dos Actos dos Apóstolos»; «Leitura da Epístola de S. Paulo aos Coríntios»…e, após breve pausa, lê.
Olhar ou não a assembleia quando se lê? Deve haver o equilíbrio entre o olhar a assembleia para quem se lê (sobretudo no enunciar da leitura e no final) e olhar o texto, partindo do princípio de que o leitor é servidor de uma Palavra que não é sua, mas de Deus, e servidor da assembleia a quem dirige a Palavra. Por isso: projecte mais a voz que o olhar, cuidando, porém, uma e outra coisa.
Ler devagar é um dos requisitos fundamentais para uma boa proclamação o que, infelizmente, nem sempre acontece. A precipitação na aproximação do ambão e a pressa com que se lê são, em nosso entender, dos defeitos mais comuns dos leitores e que é preciso evitar, para que a Palavra seja bem pronunciada, captada e entendida.
O defeito oposto à pressa é o soletrar a leitura. Não é necessário ressaltar cada sílaba com igual intensidade. Além de tornar a audição maçadora, é um impedimento à compreensão do texto. É fundamental, por isso, a leitura prévia.
Vocalizar bem é outro elemento importante. Para isso, nada de pressas, não “comer” sílabas, efectuando uma boa dicção e articulação, sem omitir nem acrescentar nada às palavras ou às frases, evitando o perigo de alterar o sentido do texto.
O silêncio é outro factor determinante para uma boa leitura. Entre o título e a leitura deve haver um breve silêncio, bem como entre o fim da leitura e a aclamação: «Palavra do Senhor». Além disso, as frases e orações do texto são ritmadas por pontuação (vírgulas, pontos finais…) e os diversos tipos de pontuação requerem diversos tipos de silêncio: mais curtos ou mais breves.
A pontuação é um dos mais importantes componentes na proclamação do texto, por isso dedicar-lhe-emos o próximo número.

O Leitor ( 3ª parte )

Conselhos para antes da leitura

O serviço do leitor não se cinge nem se esgota, como já afirmámos diversas vezes, ao estrito acto de ler, de proclamar um texto sagrado na celebração. Há um antes e um depois da leitura. Deixamos alguns conselhos pertinentes a ter em conta antes da leitura.
O serviço de leitor é eminentemente verbal. Porém, comporta igualmente alguns componentes de linguagem não verbal: gestos, posturas, para uma boa proclamação.
- O acesso ao ambão. É um gesto que deve efectuar-se de forma digna, serena, sem ruídos, esperando que o sacerdote, o salmista, o outro leitor terminem a sua função.
- A postura corporal diante da assembleia. A pessoa é por si um sinal, por isso evite-se colocar as mãos nos bolsos, os braços cruzados ou atrás das costas, a rigidez de face, o riso artificial, a teatralização. Nem excessiva timidez, nem superficialidade gestual ou de olhar. A assembleia ouve, mas também vê, isto é: também “se ouve com os olhos”.
- O leitor vestido com naturalidade. O leitor não usa, habitualmente, vestes especiais. Este, homem ou mulher, jovem ou adulto, usa o vestuário normal, sem publicidades, palavras, decorações ou formas que despertem a atenção da assembleia. Tenha-se, além disso, o bom senso para impedir qualquer reparo em ousadias desnecessárias.
- O lugar e o livro de onde se lê. É importante que o leitor se coloque visivelmente no ambão, o lugar da proclamação da Palavra, e que se veja que está a ler pelo Livro da Palavra de Deus e não por uma folha qualquer ou fotocópia. O leitor deve colocá-lo à sua medida, se necessário, pegar nele com naturalidade.
- Ajustar o microfone e a luz. Uma das deficiências mais notórias é o “quase medo” de tocar no microfone. Mas é essencial que, antes de ler, se verifique se está ou não ligado e se ajuste, como norma, a um palmo em relação à boca. O mesmo se diga se há alguma iluminação no ambão. O leitor deve colocar-se de modo a ver bem o livro e a fazer-se ouvir.
- Esperar o silêncio da assembleia. Antes de começar a ler, o leitor deve esperar que a assembleia esteja sentada, atenta, em posição de escuta. Se persiste algum ruído: pessoas a sentar-se, ou à procura de lugar, movimentações… o leitor deve esperar. Sem silêncio, de nada vale começar.

O Leitor ( 2ª parte )

Mediador e não Protagonista

Se normalmente cuidamos a maneira de transmitir as nossas palavras e mensagens humanas, com mais afinco devemos aperfeiçoar a maneira de comunicar aos outros a Palavra de Deus, enunciada nas leituras da Eucaristia.
O leitor, mais que “ler” pura e simplesmente, tem como missão “proclamar”, com o máximo de expressividade, a Palavra. Proclamar é pronunciar, promulgar diante de uma assembleia que escuta. Não é uma simples leitura pessoal, busca de informação ou explicação, mas um ministério (serviço) à assembleia celebrante.
O simples facto de ler em público para uma comunidade celebrante é, por si mesmo, um acto de culto, um serviço litúrgico, realizado com fé, por quem tem fé. Assim, uma das condições requeridas a um bom leitor é que tenha a convicção de que, no seu desempenho, ele é simplesmente – e nada mais! – um mediador entre Deus, que por ele dirige a sua Palavra, e a comunidade cristã, que a escuta e faz sua.
A palavra que o leitor transmite aos irmãos não é palavra sua, nem sequer da Igreja, mas de Deus. Ele não lê em função de si, só para si, mas executa, da parte de Deus e enviado por Ele, um serviço à comunidade. Por sua vez, Deus, comunica-se, agora, não através de revelações e de anjos, mas pelo ministério concreto de pessoas concretas: os leitores. Por meio delas a palavra faz-se realidade viva e a mensagem encarna.
O que está escrito nos livros, ainda que sejam sagrados, como é o caso das leituras bíblicas, é “letra impressa” que terá vida através da voz do que lê, da sua atitude comunicativa. Só assim o que está escrito se converte em acontecimento vivo, em Palavra de Salvação.
O leitor é como que o último elo de uma comprida cadeia de transmissão. Os profetas, os apóstolos falaram há séculos, as suas palavras foram escritas nos livros bíblicos, em seguida traduzidas, depois preparadas para as celebrações e agora é um leitor concreto quem as proclama numa determinada comunidade.
Contudo, por mais belos que sejam os escritos de Isaías, de S. Paulo, de S. João… se o leitor não os comunica com expressão, se o microfone não funciona, se há ruídos, será difícil estabelecer um diálogo vivente entre Deus e a assembleia.
Deus, normalmente, não actua nem se comunica por meio de milagres, mas serve-se da mediação humana, neste caso, de um leitor. É neste sentido que reafirmamos o que dá título a esta crónica: o leitor é Mediador e não Protagonista.

O Leitor ( 1ª parte)

O primeiro ouvinte da Palavra

Um bom Leitor é dar vida a um texto escrito, no qual está contida a Palavra de Deus. Isto requer uma preparação a vários níveis: técnico, linguístico…Tudo o que dissemos, contudo, assenta num pressuposto de índole espiritual: o leitor é o primeiro ouvinte.
O Leitor que proclama a Palavra na comunidade não exerce uma função como um carteiro que se limita a transmitir mensagens a outros, nada tendo a ver com elas. Pelo contrário, o Leitor é o primeiro destinatário da Palavra que proclama aos outros: leu-A, entendeu-A, acreditou Nela, rezou-A. Só depois estará verdadeiramente apto para a dirigir à Assembleia que tem diante de si.
Ao tomar consciência da importância do ministério que exerce, o Leitor deve estar alegre por servir, imbuído de uma atitude de convicção e profundo respeito. De facto, Deus quer falar ao seu povo e o mesmo Deus escolheu este ou aquele Leitor como seu porta-voz.
Além da preparação esmerada, o Leitor coloca-se numa atitude de fé. Em várias passagens bíblicas, por exemplo: no livro do Profeta Ezequiel capítulo 3, 3; no Apocalipse, capítulo 10, 9, numa linguagem metafórica, mas rica de sentido, Deus mandava ao profeta, o que comunicava a Palavra, que a comesse, isto é, que fizesse sua a mensagem, antes de a comunicar aos outros.
Ler na Assembleia é um importantíssimo acto litúrgico a executar com amor e espírito de serviço porque só assim a Palavra se torna viva e actual. Aqui reside a honra de Leitor, como também a sua grande responsabilidade. Se a sua voz não ressoa bem, ou não está possuído e convicto da Palavra que lê, a mensagem não passa.
Como se reza na oração de bênção dos leitores: «quando proclamais a Palavra sede, vós mesmos, dóceis ouvintes dela, conservando-a nos vossos corações e levando-a à prática, guiados pelo Espírito Santo».
O Leitor é, portanto, o primeiro ouvinte e vivente da Palavra, e só nesta convicção poderá proclamá-la como deve.

O Respeito pela Dignidade das Pessoas

O RESPEITO PELA ALMA DO PRÓXIMO: O ESCÂNDALO
O escândalo é a atitude ou comportamento que leva outrem a fazer o mal. O escandaloso transforma-se em tentador do seu próximo; atenta contra a virtude e a retidão, podendo arrastar o irmão para a morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por acção ou omissão, levar deliberadamente outra pessoa a cometer uma falta grave.
O escândalo reveste-se duma gravidade particular conforme a autoridade dos que o causam ou a fraqueza dos que dele são vítimas. Ele inspirou esta maldição a nosso Senhor: «Mas se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar» (Mt 18, 6).
O escândalo é grave quando é causado por aqueles que, por natureza ou em virtude da função que exercem, têm a obrigação de ensinar e de educar os outros. Jesus censura-o nos escribas e fariseus, comparando-os a lobos disfarçados de cordeiros.
O escândalo pode ser provocado pela lei ou pelas instituições, pela moda ou pela opinião.
É assim que se tornam culpados de escândalo os que estabelecem leis ou estruturas sociais conducentes à degradação dos costumes e à corrupção da vida religiosa, ou a «condições sociais que, voluntária ou involuntariamente, tornam difícil e praticamente impossível uma conduta cristã conforme aos mandamentos».
O mesmo se diga dos chefes de empresa que tomam medidas incitando à fraude, dos professores que «exasperam» os seus alunos, ou daqueles que, manipulando a opinião pública, a desviam dos valores morais. Aquele que usa dos poderes de que dispõe, em condições que induzem a agir mal, torna-se culpado de escândalo e responsável pelo mal que, directa ou indiretamente, favorece. «É inevitável que haja escândalos, mas ai daquele que os causa» (Lc 17, 1).

Fonte: Catecismo da Igreja Católica.