quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Qual deve ser a duração da homilia?



É bom saber que há paroquianos que se queixam de homilias muito curtas e as vezes longas de mais. Indica a existência de uma verdadeira fome de uma explicação substancial da Palavra de Deus. Infelizmente, as normas oficiais dizem relativamente pouco sobre a duração das homilias. Isto é inevitável, porque as expectativas variam de uma cultura para outra e mesmo de um contexto social para outro. Se, por um lado, há culturas que preferem longos discursos durante a missa, também há outras em que seis minutos já despertam sinais de impaciência na assembleia.

Na Introdução ao Lecionário, o nº 24 diz:
Particularmente recomendada como parte da liturgia da Palavra, especialmente a partir da constituição litúrgica do concílio Vaticano II, e até expressamente obrigatória em alguns casos, a homilia expõe, no decorrer do ano litúrgico, de acordo com o texto sagrado, os mistérios da fé e as normas da vida cristã.Via de regra feita pelo celebrante que preside a missa, a homilia se ​​destina a assegurar que a proclamação da Palavra de Deus se torne, juntamente com a liturgia eucarística, "uma proclamação das admiráveis obras de Deus na história da salvação, no mistério de Cristo". O mistério pascal de Cristo, que é proclamado nas leituras e na homilia, se atualiza por meio do sacrifício da missa. Cristo, portanto, está sempre presente e ativo na pregação da sua Igreja. A homilia, seja explicando a palavra de Deus proclamada na Sagrada Escritura ou em outro texto litúrgico, deve guiar a comunidade dos fiéis a participar ativamente na Eucaristia, para que eles "expressem na vida o que receberam na fé". Com esta viva exposição, a proclamação da palavra de Deus e a celebração da Igreja podem alcançar uma eficácia maior, desde que a homilia seja realmente o resultado da meditação, bem preparada, nem muito longa nem muito curta, e que saiba se dirigir a todos os presentes, incluindo as crianças e as pessoas mais humildes".

Em sua exortação apostólica Verbum Domini, o papa Bento XVI dedicou uma passagem à importância da homilia:
59 . Várias tarefas e ofícios competem a cada um no tocante à Palavra de Deus: aos fiéis, cabe ouvi-la e meditá-la; expô-la, porém, cabe apenas àqueles que, em virtude da sagrada ordenação, têm a respectiva tarefa magisterial, ou àqueles a quem é confiado o exercício deste ministério: os bispos, sacerdotes e diáconos. Daqui a importância que o sínodo atribuiu à homilia. Já na exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, eu salientei que, "em relação à importância da Palavra de Deus, há necessidade de melhorar a qualidade da homilia. Ela faz parte da ação litúrgica; destina-se a promover uma compreensão mais profunda da Palavra de Deus na vida dos fiéis. A homilia é uma atualização da mensagem bíblica, a fim de que os fiéis sejam levados a descobrir a presença e a eficácia da Palavra de Deus na vida de hoje. Ela deve levar à compreensão do mistério que se celebra, convocar para a missão, dispondo a assembleia para a profissão de fé, para a oração universal e para a liturgia eucarística. Como resultado, quem por ministério específico deve pregar dedique-se de coração a essa tarefa. Devem-se evitar homilias genéricas e abstratas que ocultam a simplicidade da Palavra de Deus, bem como inúteis divagações que ameaçam chamar mais atenção para o pregador do que para o coração da mensagem evangélica. Deve ficar claro para os fiéis que o que está no coração do pregador é mostrar a Cristo, que deve ser o centro de cada homilia. Isto exige que os pregadores tenham confiança e constante contato com o texto sagrado e se preparem para a homilia na meditação e na oração, a fim de pregar com paixão e convicção. A assembleia sinodal exortou a se fazerem as seguintes perguntas: o que dizem as leituras proclamadas? O que dizem a mim, pessoalmente? O que devo dizer à comunidade, levando em conta a sua situação específica? O pregador deve se deixar desafiar pela Palavra de Deus que proclama, porque, como diz Santo Agostinho, "é inútil pregar exteriormente a Palavra de Deus e não ouvi-la no próprio coração". Cuide-se com especial atenção da homilia dos domingos e das solenidades, mas não se negligenciem as das missas cum populo durante a semana: quando possível, ofereçam-se breves reflexões, apropriadas à situação, para ajudar os fiéis a receber e fazer frutificar a Palavra ouvida.
Se este é o desafio que a Igreja apresenta para a pregação de padres e diáconos, é pouco provável que ele possa ser vencido numa homilia de apenas um minuto. A Igreja recomenda ser breve, principalmente porque a homilia deve ser proporcional a toda a celebração. Faz pouco sentido prolongar-se durante 20 minutos ou mais e dedicar pouco tempo à Oração Eucarística. Novamente, devem-se levar em conta vários fatores culturais e é quase impossível dar regras precisas. Poderíamos dizer que seis minutos são o mínimo para a missa de domingo, mas é muito mais difícil determinar a duração máxima. Considero que o critério da proporcionalidade com o resto da celebração é um bom parâmetro, juntamente com as expectativas dos fiéis no contexto de uma situação pastoral concreta.

Pe. Edward McNamara, LC, professor de teologia e diretor espiritual
 

PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL


PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Praça de São Pedro
Quarta-feira, 25 de Setembro de 2013

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

No «Credo» nós dizemos: «Creio na Igreja, una...», ou seja, professamos que a Igreja é única e que esta Igreja é em si mesmo unidade. Contudo, se olharmos para a Igreja católica no mundo, descobriremos que ela abrange quase 3.000 dioceses espalhadas por todos os Continentes: muitas línguas, tantas culturas! Aqui estão presentes Bispos de muitas culturas diversas, de numerosos países. Está o Bispo de Sri Lanka, o Bispo da África do Sul, um Bispo da Índia, aqui estão presentes em grande número... os Bispos da América Latina. A Igreja está espalhada pelo mundo inteiro! E no entanto, os milhares de comunidades católicas formam uma só unidade. Como pode acontecer isto?
Podemos encontra uma resposta sintética no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, que afirma: a Igreja católica espalhada pelo mundo «tem uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma comum esperança e a mesma caridade» (n. 161). É uma definição bonita e clara; orienta-nos bem. Unidade na fé, na esperança e na caridade, unidade nos Sacramentos e no Ministério: são como pilares que sustentam e mantêm firme o único e grande edifício da Igreja. Onde quer que formos, até à paróquia mais pequenina, no recanto mais remoto desta terra, existe uma única Igreja; nós estamos em casa, em família, entre irmãos e irmãs; e este é um grande dom de Deus! A Igreja é uma só para todos! Não existe uma Igreja para os europeus, uma para os africanos, uma para os americanos, uma para os asiáticos e uma para aqueles que vivem na Oceânia; não, ela é a mesma em toda a parte. É como uma família: podemos estar distantes, espalhados pelo mundo, mas os vínculos profundos que unem todos os membros da família permanecem sólidos, independentemente da distância. Penso por exemplo na experiência da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro: naquela imensa multidão de jovens, na praia de Copacabana, ouviam-se falar muitas línguas, viam-se traços de rostos muito diferentes uns dos outros, encontravam-se culturas diversas, e no entanto havia uma unidade profunda, formava-se una única Igreja, todos estavam unidos e sentia-se. Interroguemo-nos todos: eu, como católico, sinto esta unidade? Eu, como católico, vivo esta unidade da Igreja? Ou não me interessa, porque estou fechado no meu pequeno grupo ou em mim mesmo? Sou um daqueles que «privatiza» a Igreja para o próprio grupo, para a minha Nação, para os meus amigos? É triste encontrar uma Igreja «privatizada» por este egoísmo e esta falta de fé. É triste! Quando ouço que muitos cristãos no mundo sofrem, permaneço indiferente ou sinto-me como se sofresse um membro da família? Quando penso ou ouço dizer que muitos cristãos são perseguidos e chegam a dar a sua vida pela própria fé, isto comove o meu coração, ou não me sensibiliza? Estou aberto àquele irmão ou àquela irmã da família que entrega a vida por Jesus Cristo? Rezamos uns pelos outros? Dirijo-vos uma pergunta; não deveis responder em voz alta, mas só no coração: quantos de vós rezam pelos cristãos que são perseguidos? Quantos? Cada um responda no seu coração. Rezo por aquele irmão, por aquela irmã que se encontra em dificuldade, para confessar e defender a sua fé? É importante olhar para fora do próprio espaço, sentir-se Igreja, única família de Deus!

Demos mais um passo, interrogando-nos: existem feridas nesta unidade? Podemos ferir esta unidade? Infelizmente vemos que no caminho da história, também agora, nem sempre vivemos a unidade. Às vezes surgem incompreensões, conflitos, tensões e divisões que a ferem, e então a Igreja não tem o rosto que gostaríamos que tivesse, não manifesta a caridade, o que Deus deseja. Somos nós que criamos lacerações! E se olharmos para as divisões que ainda subsistem entre os cristãos, católicos, ortodoxos, protestantes... sentimos a dificuldade de tornar esta unidade plenamente visível. Deus concede-nos a unidade, mas nós muitas vezes temos dificuldade em vê-la. É preciso procurar, construir a comunhão, educar para a comunhão, para superar incompreensões e divisões, a começar pela família, pelas realidades eclesiais, inclusive no diálogo ecuménico. O nosso mundo precisa de unidade; vivemos numa época em que todos precisamos de unidade, temos necessidade de reconciliação e de comunhão; e a Igreja é uma Casa de comunhão. São Paulo dizia aos cristãos de Éfeso: «Exorto-vos pois, prisioneiro pela causa do Senhor, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade, amabilidade e magnanimidade, suportando-vos mutuamente com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz» (4, 1-3). Humildade, amabilidade, magnanimidade e caridade para conservar a unidade! São estas as veredas, os verdadeiros caminhos da Igreja. Ouçamo-las mais uma vez: humildade contra a vaidade, contra a soberba; humildade, amabilidade, magnanimidade e caridade para conservar a unidade! E Paulo continuava: um só corpo, o corpo de Cristo que nós recebemos na Eucaristia; um só Espírito, o Espírito Santo que anima e recria continuamente a Igreja; uma só esperança, a vida eterna; uma só fé, um só Baptismo e um único Deus, Pai de todos (cf. vv. 4-6). A riqueza daquilo que nos une! E esta é uma riqueza autêntica: o que nos une, não o que nos divide! Esta é a riqueza da Igreja! Hoje, cada um deve interrogar-se: faço crescer a unidade na família, na paróquia, na comunidade, ou sou um tagarela, uma tagarela? Sou motivo de divisão, de dificuldade? Mas vós não sabeis o mal que os mexericos fazem à Igreja, às paróquias, às comunidades! Fazem mal! As bisbilhotices ferem! Antes de coscuvilhar, o cristão deve morder a sua língua! Sim ou não? Morder a língua: isto far-lhe-á bem, porque a língua inchará e não poderá falar, não conseguirá coscuvilhar. Tenho a humildade de curar, com paciência e sacrifício, as feridas na comunhão?
Enfim o último passo, mais profundo. E trata-se de uma pergunta bonita: quem é o motor desta unidade da Igreja? É o Espírito Santo, que todos nós recebemos no Baptismo e também no Sacramento da Confirmação. É o Espírito Santo! A nossa unidade não é primariamente fruto do nosso consenso, nem da democracia no seio da Igreja, nem sequer do nosso esforço de estar em sintonia, mas deriva d’Aquele que faz a unidade na diversidade, porque o Espírito Santo é harmonia, sempre cria a harmonia na Igreja. Trata-se de uma unidade harmoniosa no meio de toda a diversidade de culturas, línguas e pensamentos. O motor é o Espírito Santo! Por isso é importante a oração, que constitui a alma do nosso compromisso de homens e mulheres de comunhão e de unidade. A oração ao Espírito Santo, a fim de que venha e construa a unidade na Igreja.

Peçamos ao Senhor: Senhor, concedei-nos a graça de viver cada vez mais unidos, de nunca sermos instrumentos de divisão; fazei com que nos comprometamos, como reza uma bonita prece franciscana, a levar o amor onde houver ódio, a levar o perdão onde houver ofensa e a levar a união onde houver discórdia. Assim seja!


Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, seguindo caminhos diversos no dia-a-dia, mas hoje com paragem comum neste Encontro com o Bispo de Roma que vos dá as boas-vindas e saúda a todos, especialmente às diversas comunidades paroquiais do Brasil e ao grupo de Lisboa: O Senhor Jesus vos encha de alegria e o seu Espírito vos ilumine e guie na realização do vosso serviço de homens e mulheres de comunhão, de unidade. Estreitando-vos a todos ao coração, dou-vos a minha Bênção, extensiva às vossas famílias.

 

Igreja Católica e Maçonaria


A maçonaria tem uma origem difícil de ser comprovada. Alguns afirmam remontar ao tempo anterior ao dilúvio de um tal Jabal, construtor contratado por Caim e Enoch. Jabal ensinou uma arte secreta para trabalhar com lâminas de ouro. Esses conhecimentos chegaram a Abraão, por meio de quem seriam transmitidos aos egípcios. Estes os transmitiram aos Judeus, que alcançaram o seu apogeu na construção do templo de Salomão. Depois da destruição do templo, o conhecimento teria passado para os cristãos. Os depositários desses segredos seriam os "quatro santos coroados" e Santo Albano na Inglaterra, o qual com a ajuda do rei Athelstan os teria codificado.
A maioria dos estudiosos não aceita essa primeira origem, ela é considerada um tanto fantasiosa. Admiti-se que a origem remota da maçonaria moderna( franco-maçonaria = pedreiros livres) desenvolveu-se a partir das organizações medievais que agrupavam arquitetos, mestres- de- obras e pedreiros, os quais, por construírem castelos e igrejas eram considerados espiritualmente nobres.
Tinham como meta construir a liberdade e a tolerância e o aperfeiçoamento da humanidade. Professavam a existência de um Principio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo.
A maçonaria, conforme é conhecida até os nossos dias, foi criada em 24 de junho de 1717, como a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Surgiu da iniciativa dos pastores protestantes ingleses James Anderson e J. T. Desaguliers. No ano de 1723, Anderson elabora a primeira Constituição maçônica. A partir de então a maçonaria adotou uma forma de organização política que deveria conservar daí por diante.
Durante o século XVIII surgiram lojas na Europa e na América. Com o tempo os maçons tornaram-se anticlericais, sendo por isso, excomungados pela Igreja Católica (1738). Após a cisão que resultou na fundação do Grande Oriente, na França, em 1773, a maçonaria alcançou o apogeu, tendo importante papel nos acontecimentos da Revolução Francesa.
A maçonaria tem como principio professar as mais diversas religiões. Como no Brasil a grande maioria dos brasileiros é cristã, adota-se a Bíblia como livro da lei. Em outra nação, o livro que ocupa o lugar de destaque no Templo poderá ser o Alcorão, o Tora, o livro de Maomé, os Vedas etc., de acordo com a religião de seus membros.
Em 24 de abril de 1738, o papa Clemente XII escreve a encíclica IN EMINENTI, em que condenou abertamente pela primeira vez a maçonaria. A partir dessa palavra oficial da Igreja foi proibido aos católicos pertencer á maçonaria.
Nos séculos seguintes inúmeros papas confirmaram essa mesma posição por meio de diferentes documentos:
· Benedicto XIV, Providas, 18 de maio de1751.
· Pio VII, Ecclesiam a Jesu Chisto, 13 de setembro de 1821.
· LeãoXII, Quo Graviora, 13 de março de 1825.
· Pio VIII, Traditi Humilitati, 24 de maio de 1829.
· Gregório XVI, Mirari Vos, encíclica, 15 de agosto de 1832.
· Pio IX, Qui Pluribus, encíclica, 9 de novembro de 1846.
· Leão XIII, Humanum Genus, encíclica, 20 de abril de 1884.
· Leão XIII, Dall Alto Dell Apostólico, Seggio, encíclica, de 15 de outubro de 1890.
A encíclica HUMANUM GENUS, escrita por Leão XIII, é um das mais fortes e extensas no que diz respeito a indicar os erros da maçonaria e sua incompatibilidade com a doutrina cristã.O papa ensina, nessa encíclica, que a Igreja católica e a maçonaria são como dois reinos em guerra.
Entre os pontos principais apresentados por Leão XIII sobre os erros da maçonaria, destacam-se:
- a finalidade da maçonaria é destruir toda ordem religiosa e política do mundo inspirada pelos ensinamentos cristãos e substituí-las por uma nova ordem de acordo com suas idéias.
- Suas idéias procedem de um mero "naturalismo". A doutrina fundamental do naturalismo é a crença de que a natureza e a razão humana devem guiar tudo.
- A maçonaria apresenta -se como religião natural do homem. Por isso afirma ter sua origem no começo da história da humanidade.

- O conceito de DEUS é diferente daquele apresentado na Bíblia e na doutrina católica. Para a maçonaria, DEUS é um conceito filosófico e natural. DEUS passa a ser a imagem do homem. Por isso, não existe uma clara distinção entre o espírito imortal do homem e DEUS.
- A maçonaria nega a possibilidade de DEUS ter ensinado algo.
- Não aceita ser entendida pela inteligência humana.
- A maçonaria estimula o sincretismo religioso, isto é, a mistura das mais diferentes crenças.
- A maçonaria compara a Igreja católica a uma seita.
Em 1917, no antigo CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO (lei oficial da igreja), a maçonaria foi comparada explicitamente:
CÂNON 2.335: Pessoas que entram em associações da seita maçônica, ou outra do mesmo tipo que conspire contra a Igreja e a autoridade civil legítima, recebem excomunhão simplesmente reservada á Sé Apostólica.
Em 17 de fevereiro de 1981, a Sagrada Congregação para a doutrina da fé divulgou uma orientação para os católicos sobre a maçonaria, em que reafirma a posição tradicional da Igreja.
O Código de Direito Canônico atual, publicado em 1983, não fala de modo explícito da maçonaria, somente dá uma orientação geral contra esse tipo de associação:
CÂNON 1.374: Quem der nome a uma associação, que maquine contra a igreja, seja punido com justa pena; quem promover ou dirigir tal associação seja punido com interdito.
Por não falar da maçonaria, alguns católicos, pensaram que esse cânon não se aplicasse a ela. Surgiu um impasse: teria acabado a proibição para os católicos participarem das lojas maçônicas? Para esclarecer essa dúvida, em 26 de novembro de 1983, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé publicou a Declaração sobre as Associações maçônicas,
QUAESITUM EST:
"Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da maçonaria pelo fato de que no novo Código de Direito Canônico ela não vem expressamente mencionada como no Código anterior.
Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redacional seguido também quanto ás outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.
Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem ás associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão. Não compete ás autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçônicas com juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de fevereiro de 1981"( cf. AAS 73,1981,pp. 240-241).
O Sumo Pontífice João Paulo II, durante audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente declaração, decidida na reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação.

Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de novembro de 1983.
Joseph Card. Ratzinger.
PREFEITO
Fr. Jérôme Hamer, O.P.
SECRETÁRIO.

 

Divórcio e Vivência dos Filhos

 
O divórcio do casal e a separação dos pais é sempre um processo doloroso tanto para o casal quanto para os filhos, mesmo tendo em vista que o divórcio está a se tornar cada dia mais comum e quase uma constante social.
A separação dos pais é sempre um motivo de tristeza. É uma vivência de perda e frustração, que aumenta o stress e que pode desestabilizar ou desorientar e prejudicar relacionamentos futuros.
O que desestabiliza emocionalmente os filhos não é a separação em si, mas como ela é gerida e vivida. Muito do humor dos filhos dependerá, do humor, da atenção e das condições do pai ou da mãe que tenha ficado com a guarda.
As questões psicológicas emocionais não devem ser negligenciadas. Para que os filhos não sofram consequências traumatizantes com o divórcio é muito importante e fundamental o ambiente familiar e a maneira como os pais e familiares conduzem a separação, por haver o risco de traumatizar os filhos em plena fase de desenvolvimento físico e psicológico.
Grau de conflito durante o divórcio
A agressividade entre os pais na situação de divórcio é sentida pelos filhos e pode condicionar uma relação futura que pode ir desde a tentativa de evitar comportamentos agressivos pelo trauma do sofrimento vivido ou até mesmo como um exemplo a seguir por imitação dos próprios pais.
Dependendo de como a situação agressiva foi sentida e vivida pelo filho bem como da sua idade e maturidade no momento da separação haverá mais ou menos dificuldades para retomar e manter um equilíbrio emocional estável no futuro.
Pais maduros psicologicamente questionam-se e analisam seus sentimentos e comportamentos, procurando garantir uma educação saudável aos filhos, o que passa muito pelo exemplo.
Uma relação onde o casal grita e se agride, pode deixar os filhos assustados, com medo e inseguros. 
Quando os filhos são surpreendidos com a separação repentina dos pais, podem ficar traumatizados por sentimentos de culpa e por sentirem dificuldade em perceber como o “amor” pode acabar.
A forma mais saudável e menos traumática para viver uma separação é através de uma postura equilibrada, onde os pais explicam a separação aos filhos com honestidade e serenidade para que estes compreendam e aceitem com naturalidade. Esse é um momento essencial para que a separação ocorra da melhor forma possível e com o mínimo de sofrimento para os filhos.
Idade dos filhos
O divórcio será mais ou menos traumático conforme as circunstâncias da separação e a maturidade do casal e dos filhos. É muito importante a atitude coerente e equilibrada dos pais para evitar danos futuros.
A idade dos filhos também é um fator determinante.
Crianças em idade pré-escolar, 3 a 5 anos, podem ser particularmente vulneráveis, uma vez que não podem entender situações complexas e ficam confusas, podendo apresentar uma regressão no seu desenvolvimento e voltar a urinar na cama, demonstrar vários medos, apresentar alterações do sono e tornarem-se irritáveis, exigentes, muito solícitos e mais dependentes dos pais.
Uma criança de 7/8 anos poderá não dar tanta importância à separação, mas pela dificuldade de compreensão e pela perda dos referenciais paternos e maternos poderá apresentar uma tristeza grande, uma diminuição do rendimento escolar e ter consequências mais graves como sofrer uma depressão infantil.
O divórcio também pode afetar a capacidade da criança para se relacionar com outras pessoas. O sentimento de segurança fica comprometido pelo processo de divórcio. Em consequência seus sentimentos de agressividade podem provocar problemas de relacionamento com companheiros e a sua falta de segurança torna-a mais cautelosa ao fazer novas amizades.
O adolescente embora mais consciente do que se passa, pode sentir falta dos pais na formação da identidade, apresentar dificuldade em aceitar a situação imposta, questionar a autoridade e como consequência apresentar uma rebeldia excessiva, dificuldade em aceitar regras e limites, dificuldade de aprendizagem e baixo rendimento escolar.
O adolescente obrigado a amadurecer mais rapidamente, poderá apresentar problemas de desajuste psicológico e social. Poderá sentir-se diferente do grupo e por consequência ter tendência a isolar-se e adotar uma atitude reservada e distante e com o controlo excessivo de si mesmo. A sua intenção é ocultar sentimentos de vergonha, neutralizar a ansiedade e sondar os limites da nova situação familiar.
O adolescente reage ao divórcio muitas vezes com depressão, raiva intensa ou com comportamentos rebeldes e desorganizados. Poderá questionar a autoridade e ser levado a experimentar as drogas e o álcool. Estudos revelam que entre os adolescentes de pais separados pode haver uma certa precocidade no comportamento sexual, como meio de encontrarem uma companhia.
Há também adolescentes que conseguem viver a experiência de uma forma mais tranquila e embora tristes passam pela separação dos pais de uma forma equilibrada.
O viver em duas casas diferentes também pode ser um fator desestabilizante. 
A criança e o adolescente precisam ter seu “espaço próprio” e referencial para adquirirem uma maior segurança e autonomia interna.
O fato de viverem divididos entre duas casas, geralmente com um estilo de vida diferentes e com regras próprias, poderá criar um foco constante de instabilidade nos filhos e favorecer a formação de laços afetivos superficiais que poderão dificultar a construção de uma identidade forte. Por outro lado alguns poderão até tornar-se mais flexíveis e facilmente adaptáveis à mudanças e a novas situações difíceis da vida, inclusive separações e abandonos futuros, resultando numa maior autonomia e senso de responsabilidade.
Pais presentes e coerentes nas suas atitudes diante da separação, mantendo o seu papel de educadores e os filhos bem amparados, bem informados e sem se sentirem rejeitados, colaboram para uma melhor adaptação dos filhos e para manter um equilíbrio familiar estável.
A ligação dos filhos com o pai, no caso da guarda ficar com a mãe deverá ser preservada ao máximo.
Poderá haver uma sensação de abandono que pode ser superada conforme o pai se mantenha presente e afetivamente ativo. É importante também que a mãe contribua a não destruir a imagem do pai, mas que o apresente sob uma nova perspectiva. Sempre que a separação seja bem conduzida pelos pais minimizará as consequências negativas nos filhos.
Se a saída do pai for traumatizante, os filhos podem sentir-se abandonados, o que no futuro poderá levar à perda de confiança nas pessoas e dificultar futuros relacionamentos afetivos.
Possibilidade de um novo casamento
Os filhos encaram um novo casamento dos pais primeiramente com desconfiança pois o outro é visto como rival. Dependendo das circunstâncias de como a experiência foi vivida, poderão sentir como uma oportunidade de ter uma nova família.
O segredo é estabelecer com os filhos uma relação amigável e ser uma figura de pai e mãe coerente, afetiva e securizante, para permitir que se estabeleça uma relação de confiança e de amor. 
É sempre difícil para o filho aceitar uma nova união dos pais. Os pais terão sempre um lugar especial na mente dos filhos. É preciso haver um tempo para que se estabeleça um novo equilíbrio familiar e para que haja uma aceitação de afeto e confiança da nova pessoa na família.
Conversar e explicar a separação aos filhos é essencial e indispensável para que a separação ocorra da melhor forma possível.
As crianças devem ainda ser esclarecidas que o processo de divórcio é permanente, de forma a não alimentarem a fantasia de uma reconciliação. Os pais devem ainda reforçar que o fato de serem filhos de pais separados não é motivo de vergonha ou embaraços e que estão sempre disponíveis a apoiar os filhos a superarem as dificuldades inerentes à adaptação a uma nova situação familiar.
É importante que os pais se sintam responsáveis, que mantenham uma conduta coerente, afetiva e educativa, sempre mantendo os filhos bem informados e bem amparados, para que se sintam amados e seguros para aceitar a mudança prevenindo situações de sofrimento e angústia, o que não deve ser confundido com atitudes compensatórias. 
Os pais precisam sempre ter claro que o papel deles não muda com a separação.
A questão principal entre pais e filhos é o “amor”. É muito importante para um desenvolvimento psicológico saudável dos filhos que eles sintam uma segurança afetiva com o “amor” de ambos os pais.
 

MANIQUEÍSMO POLÍTICO-RELIGIOSO


O maniqueísmo é uma doutrina, uma ideologia, uma esquizofrenia que se baseia num certo dualismo natural, em que existe dia e noite, claro e escuro, direita e esquerda, vida e morte,  corpo e alma, teoria e prática, transparente e opaco, limpo e sujo, céu e inferno, anjo bom e demônio, analfabeto e alfabetizado,  amigo e inimigo,  certo e errado, bem e mal. O maniqueísmo filosófico, sob certo aspecto, é bastante cartesiano, pois entende que existem fronteiras claras e distintas entre estes dualismos. Em geral, quando hoje se recorda o maniqueísmo, se faz isto apenas em relação ao maniqueísmo ético, qualificando os acontecimentos, as idéias, as doutrinas, as ideologias e as pessoas em boas ou más. Em tempos idos aos homens considerados do bem se permitia tudo, e aos maus se cortava a cabeça.  Mas, por que estou aqui descrevendo o maniqueísmo? Porque, ao que me parece, esta esquizofrenia maniqueísta tomou conta deste segundo turno da campanha política em nosso país. E a moldura da campanha virou um maniqueísmo esquizofrênico político-religioso. A toda hora usa-se o nome de Deus em vão, como se Deus fosse marionete nas mãos de religiosos  ou de políticos. E o grande problema que se joga  nesta arena maniqueísta é a questão do aborto. Por que então não levantar outros problemas relacionados com a valorização da vida, e discuti-los com mais conhecimento de causa do que a questão do aborto? Muitos abortos acontecem naturalmente, por contingências da natureza que Deus criou. Não há como conhecer todas estas contingências da natureza para evitar a morte natural de milhares de fetos. Os abortos provocados também acontecem por contingências. Contingências originadas em situações humanas diversas: pressões sociais, imaturidade, irresponsabilidade, problemas psicológicos, miséria humana, doenças, crimes, ideologias.  Em situações de boa saúde física, psicológica,  mental, social,  econômica, educacional, ideológica dificilmente mulheres buscariam o aborto, ou se deixariam induzir a isto por homens irresponsáveis. Por isto é tempo perdido, e uma inutilidade, querer exigir de candidatos políticos que se declarem contra ou a favor do aborto. Nem de Deus se pode exigir que  se declare a favor ou contra, pois na natureza criada por Ele também  acontecem abortos. A questão não é colocar na cadeia quem praticou o aborto, mas cuidar dos ambientes humanos para que a vida seja considerada o bem supremo. Neste sentido, quem se preocupa com a questão do aborto, onde se mata, da mesma forma deveria se preocupar com a questão das guerras, com a indústria bélica, com as fábricas de armas. E quem, nesta campanha, já exigiu que algum candidato se pronunciasse sobre isto, quando se sabe que o Brasil é um dos maiores fabricantes e exportadores de armas do mundo? Armas que matam; minas, fabricadas no Brasil,  que ainda hoje explodem em Angola e Moçambique mutilando e matando. Qual a Igreja que já falou nisto? Desta forma, os problemas do Brasil, que deveriam ser discutidos pelos candidatos à Presidência, não são simplesmente religiosos ou civis, são problemas humanos. E os projetos políticos somente deveriam buscar sua fundamentação na questão humana, buscando construir condições para uma vida digna para todos os cidadãos. E o que se propõe, por exemplo? Em vez de se declarar que haverá uma desfavelização do Brasil, apenas se diz que o objetivo é urbanizar as favelas. O que se entende por urbanizar submundos? Ninguém sabe! Promessas vazias de todos os lados. Mas o povo, sem espírito crítico, se deixa levar pela linguagem maniqueísta. A nossa sociedade não é teocrática, nem ateia. Simplesmente é uma sociedade civil. E uma sociedade  civil (de cidadãos)  deverá basear-se em  valores que garantam   uma vida digna para todos os habitantes deste território. E enquanto esta vida digna não for concretizada, muitas vezes, atitudes de pessoas, em condições subhumanas, nem poderão ser criminalizadas, nem responsabilizadas eticamente pelo que fazem. Pois, para o ser humano se conservar no bem, são necessárias pré-condições éticas. O certo é que os humanizados (políticos!) têm a obrigação de elevar os subhumanizados aos níveis do humano. Para que isto possa ser feito, é preciso que se conheça o ser humano e as condições necessárias para que ele tenha uma vida digna. E neste sentido, nem sempre os religiosos, e nem mesmo os políticos sabem como resolver os problemas. Por isto, não voltemos 2000 anos na história, quando  o maniqueísmo se tornou uma seita, e muitas cabeças rolaram. Se temos dois candidatos, ambos possuem virtudes e defeitos. Nossa consciência crítica deverá discernir, no dia da eleição, quem terá melhores condições humanas de melhorar as condições de vida dos brasileiros. Os problemas do Brasil não são propriamente religiosos ou civis, mas humanos.

Inácio Strieder é professor de filosofia- Recife-PE