sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A PSICOPEDAGOGIA E O BULLYING ESCOLAR

De acordo com a teoria psicopedagógica, o bullying é considerado um dos atuais causadores de problemas de aprendizagem, visto ser capaz de desarmonizar as dimensões cognitiva, simbólica, orgânica e corporal. A aprendizagem necessita de motivação como componente inerente ao processo, visto estar sempre presente como desencadeadora da ação.
Em conformidade, os afetos determinam a relação entre percepção e cognição, e servem para explicar comportamentos e acontecimentos psicológicos. Natural, então, que o objeto de aprendizagem deixe de ser objeto de desejo e passa a ser considerado objeto de repulsa, acarretando, portanto, o não-aprender.
Evidente, então, que o processo educacional se torne comprometido, visto que o aluno, desmotivado, passa a não mais ter interesse em freqüentar a escola. A partir de então, passa a inventar qualquer motivo para faltar às aulas, não se preocupa em realizar as tarefas, não presta atenção às explicações, não se socializa, enfim, não desenvolve um envolvimento emocional saudável com o ambiente escolar. Em conseqüência, o aprendente tende à retenção de série, troca de escola e, até mesmo, evasão escolar.
O ambiente escolar, conseqüentemente, torna-se inadequado à vítima, uma vez que os colegas, que deveriam estar enquadrados em um nível de amadurecimento e de comportamento similares, passam a ser considerados como agressores ou impotentes; o agressor, propriamente dito, amedronta-lhe, de modo a fazê-la perder qualquer motivação relacionada ao estudo (ou a si mesma), além de tender a ter o seu próprio processo educacional abalado; as testemunhas passam a ser vistas como rivais e desinteressadas na resolução do problema, além de também poderem estar comprometidas educacionalmente; a família e a escola, por sua vez, quando desconhecem o fato, igualmente não se torna contribuinte ao fim do sofrimento e, quando cientes da situação, seja por ignorância ou displicência, freqüentemente ignoram-na, considerando tratar-se de comportamentos comuns à idade e sem importância.
A vítima, conseqüentemente, tende a se excluir de todos os envolvidos e a manter-se em um completo isolamento, por considerar-se sozinha, abandonada e incompreendida. Como, muitas vezes, não pode dispensar a escola, sozinha em seu sofrimento, acaba forçando uma motivação para freqüentar aquele espaço, sem, obviamente, aproveitar devidamente as ofertas educacionais, gerando as falhas no seu processo de aprendizagem.
Segundo Paín, a superação dos traumas causados pelo fenômeno poderá ou não ocorrer, dependendo das características individuais de cada vítima, bem como o da sua habilidade de se relacionar consigo mesma, com o meio social e, sobretudo, com a sua família.
Portanto, não sobram dúvidas de que o fenômeno bullying é capaz de acarretar prejuízo na aprendizagem daqueles que nele estão envolvidos. Entretanto, como não apenas o campo do conhecimento torna-se comprometido, é necessário que outros profissionais intervenham, além do psicopedagogo, a fim de resgatar os demais desejos perdidos do sujeito. O fenômeno bullying é capaz de desenvolver sérios comprometimentos ao processo de aprendizagem, visto que desenvolve, na instituição educacional, um ambiente nocivo não somente às vítimas, mas a todos, direta ou indiretamente, envolvidos.
Seus efeitos são capazes de efetivamente desarmonizar as dimensões cognitiva, corporal, simbólica e orgânica, acarretando um conflito entre as questões internas e externas ao sujeito. Os estragos emocionais, sociais e psicológicos graves gerados têm força suficiente para impedir que o sujeito tenha um envolvimento saudável e propício com o objeto de conhecimento.
Embora seja evidentemente estudo da psicopedagogia, o bullying deve receber também devida importância de todos os profissionais que atendem à crianças e adolescentes tais como: Psicopedagogo, Psicólogo, Pedagogo, Psicanalista, dentre outros; todos com o objetivo de fortalecer a estrutura emocional do sujeito e possibilitar que suas relações inter e intrapessoais sejam bem (re)estruturadas.
Ademais, a escola e a família, como contribuintes do surgimento e desenvolvimento do bullying, por sua forma de atuação, também devem ser responsáveis pela sua prevenção e pelo seu fim, o que demanda conscientização efetiva do seu papel no processo da estruturação do sujeito.
Portanto, trata-se de um trabalho de combate em equipe, em que cada um deve oferecer uma contribuição eficaz. Evidente que não se trata de algo fácil, não somente, e principalmente, por se tratar de seres humanos - fato que atinge a individualidade, estruturas familiar, social, educacional arraigadas, etc. - mas porque o próprio fenômeno começou a ser estudado cientificamente há pouco tempo.



REFERÊNCIAS:
• BOSSA, NA. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2000.
• PAÍN S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1992.
• FERNADEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artmed; 1991.
• WEISS, MLL. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 9ª ed. Rio de Janeiro: DP&A; 2002.
• PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4ª ed. Rio de Janeiro: LTC; 1987.
• CONSTANTI, A. Bullying: como combatê-lo, prevenir e enfrentar a violência entre os jovens. São Paulo: Itália Nova; 2004.

O BULLYING ESCOLAR

(Como evitar esse fenômeno que afeta tanto a Escola quanto a Família).

Embora sempre presente em todas as escolas, o bullying passou a ser estudado cientificamente somente nas últimas décadas, tamanha a preocupação dos profissionais ao perceber a capacidade da agressão de gerar traumas, muitas vezes, irreversíveis nos envolvidos.
As violências veladas, caracterizadas pela constância e repetição de agressões - física, verbal ou psicológica - a uma criança ou adolescente, passaram a ser denominada bullying.
Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os às exclusões, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying. Portanto, o fenômeno bullying envolve o(s) agressor (es), a(s) vítima(s) e espectador (es).
O agressor costuma estar em situação de poder, autoridade e admiração, atingindo a vítima com constantes emissões de ameaças, intimidações, apelidos maldosos, gozações, humilhações, ofensas, intrigas, xingamentos, agressões físicas, discriminação, constrangimentos, insultos, perseguições, chantagens, dentre outros. Segundo alguns autores tal comportamento é decorrente de carência afetiva, ausência de limites e maus-tratos e explosões emocionais violentas provenientes dos pais, caracterizando uma ausência de modelos educativos humanistas éticos. Ademais, podem desenvolver uma tendência ao uso de drogas e ampliação do fenômeno bullying em casa e no trabalho. Os espectadores, ou testemunhas, por razões diversas, assistem à violência, porém nada fazem, mesmo que sejam desfavoráveis ao fato. Estes que assistem, eles também podem se sentir inseguros e incomodados com a situação e, portanto, também tendem a ter o processo de aprendizagem comprometido. A vítima tende a ter um perfil típico, que engloba “timidez, ansiedade, insegurança, falta de habilidades para se impor, medo de denunciar seus agressores, baixa auto-estima, o que o torna vulnerável e passiva à ação do agressor”.
Muitas vezes, possui alguma característica física ou comportamental marcante, como obesidade, baixa estatura, sardas, não gostar de praticar esportes, dentre outras, o que a destaca e a faz diferente dos demais, despertando a atenção do agressor.
Em decorrência do bullying, a vítima pode desenvolver ou estimular pensamentos suicidas, isolamento, ansiedade, ira, indignação, rebaixamento ainda maior da auto-estima, depressão, medo, traumas, angústia, vergonha, desejo de vingança, problemas psicossomáticos, marginalização, muito sofrimento e aversão à escola. O trágico é que as vítimas desse fenômeno são feridas na área mais preciosa, íntima e inviolável do ser - a sua alma.
Entretanto, mesmo que as seqüelas não atinjam fatalidades irreversíveis, podem acarretar um prejuízo incalculável, em diversos âmbitos, à vítima, aos agressores e às testemunhas, caso não recebam o atendimento necessário.
Segundo Costantini, nesses comportamentos, às vezes considerados irrelevantes, pesa de maneira decisiva a ausência de intervenção por parte dos adultos. A escola, portanto, enquanto instituição educadora, não pode ser omissa ao fenômeno bullying e deve ser compromissada em ater-se ao fato, buscar atualizar-se e agir de forma eficiente no combate ao mesmo.
Todos os profissionais do âmbito escolar devem estar engajados no processo, comprometidos com a elaboração e desenvolvimento de debates, palestras, campanhas, trabalhos específicos, parceria com a família e com demais profissionais, dentre outros, para que, futuramente, possam se orgulhar do ambiente sadio e pacífico que estimularam, em decorrência do desenvolvimento de uma vinculação entre cognição e afeto dentro do ambiente escolar.
Em contrapartida, em condição de parceria, a família, de todos os envolvidos, não deve deixar que a situação seja resolvida somente pela escola, devendo contribuir com uma participação ativa. A influência familiar é definidora no desenvolvimento da estrutura psicológica da criança e, portanto, os pais devem se comprometer a oferecer-lhe, desde o seu nascimento, uma formação digna, respeitosa e saudável.

O Papel do Psicopedagogo

1.O Psicopedagogo estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não só no âmbito escolar, mas alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentes etapas do desenvolvimento, para que possam compreender e entender suas características evitando assim cobranças de atitudes ou pensamentos que não são próprios da idade. Terapeuticamente a psicopedagogia deve identificar, analisar, planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento.
2. Quem são os psicopedagogos?
São profissionais preparados para atender crianças ou adolescentes com problemas de aprendizagem, atuando na sua prevenção, diagnóstico e tratamento clínico ou institucional.
3. Onde atuam?
O psicopedagogo poderá atuar em escolas e empresas (psicopedagogia institucional), na clínica (psicopedagogia clínica).
4. Como se dá o trabalho na clínica?
O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), EOCA, anamnese.
Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões, honorários, a importância da freqüência e da presença e o que ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Neste momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá contaminar o diagnóstico interferindo no olhar do psicopedagogo sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou responsáveis.
5. O diagnostico é composto de quantas sessões?
Entre 8 a 10 sessões, sendo duas sessões por semana, com duração de 50 minutos cada.
6. E depois do diagnóstico?
O diagnóstico poderá confirmar ou não as suspeitas do psicopedagogo. O profissional poderá identificar problemas de aprendizagem. Neste caso ele indicará um tratamento psicopedagógico, mas poderá também identificar outros problemas e aí ele poderá indicar um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista, ou outro profissional a depender do caso.
7. E o tratamento psicopedagógico?
O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico, ou poderá ser feito com outro psicopedagogo.
Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras situações que forem oportunas. A criança, muitas vezes, não consegue falar sobre seus problemas e é através de desenhos, jogos, brinquedo que ela poderá revelar a causa de sua dificuldade. É através dos jogos que a criança adquire maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar, adquire maior atenção.
O psicopedagogo solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, olhando a organização e os possíveis erros, ajudando-o a compreender estes erros.
Irá ajudar a criança ou adolescente, a encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem, organizando, assim, o seu modelo de aprendizagem.
O profissional poderá ir até a escola para conversar com o(a) professor(a), afinal é ele que tem um contato diário com o aluno e poderá dar muitas informações que possam ajudar no tratamento.
O psicopedagogo precisa estudar muito. E muitas vezes será necessário recorrer a outro profissional para conversar, trocar idéias, pedir opiniões, ou seja, fazer uma supervisão psicopedagógica.
8. Como se dá o trabalho na Instituição?
O psicopedagogo na instituição escolar poderá:
a) ajudar os professores, auxiliando-os na melhor forma de elaborar um plano de aula para que o aluno possa entender melhor a aula;
b) ajudar na elaboração do projeto pedagógico;
c) orientar os professores na melhor forma de ajudar, em sala de aula, aquele aluno com dificuldades de aprendizagem;
d) realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos que possam estar prejudicando o processo ensino-aprendizagem;
e) encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo etc) a partir de avaliações psicopedagógicos;
f) conversar com os pais para fornecer orientações;
g) auxiliar a direção da escola para que os profissionais da instituição possam ter um bom relacionamento entre si;
h) Conversar com a criança ou adolescente quando este precisar de orientação.
9. O que é fundamental na atuação do psicopedagogo?
A escuta é fundamental para que se possa conhecer como e o que o sujeito aprende, e como diz Nádia Bossa, “perceber o interjogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar”.
O psicopedagogo também deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos, lapsos etc.
E não parar de buscar, de conhecer, de estudar, para compreender de forma mais completa estas crianças ou adolescentes já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Legislação de apoio para atendimento de crianças com dificuldades de aprendizagem.

Legislação de apoio para atendimento de crianças com dificuldades de aprendizagem

LDB 9.394/96

Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua Proposta Pedagógica.

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento.

Art. 23 - A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

Art. 24 - V, a) avaliação contínua e cumulativa; prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período.

Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA)

Art. 53, incisos I, II e III

“a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando- se-lhes:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – direito de ser respeitado pelos seus educadores;

III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores.”

Deliberação CEE nº 11/96

Artigo 1º - “o resultado final da avaliação feita pela Escola, de acordo com seu regimento, deve refletir o desempenho global do aluno durante o período letivo, no conjunto dos componentes curriculares cursados, com preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida, considerando as características individuais do aluno e indicando sua possibilidade de prosseguimento nos estudos.”

Indicação CEE nº 5/98, de 15/4/98.

D.O.E. em 23/9/98

“(...) educação escolar consiste na formação integral e funcional dos educandos, ou seja, na aquisição de capacidades de todo tipo: cognitivas, motoras, afetivas, de autonomia, de equilíbrio pessoal, de inter-relação pessoal e de inserção social”.
(...) os conteúdos escolares não podem se limitar aos conceitos e sim devem incluir procedimentos, habilidades, estratégias, valores, normas e atitudes. E tudo deve ser assimilado de tal maneira que possa ser utilizado para resolver problemas nos vários contextos.
(...) os alunos não aprendem da mesma maneira e nem no mesmo ritmo. O que eles podem aprender em uma determinada fase depende de seu nível de amadurecimento, de seus conhecimentos anteriores, de seu tipo de inteligência, mais verbal, mais lógica ou mais espacial. No cotidiano da sala de aula, convivem pelo menos três tipos de alunos que têm “aproveitamento insuficiente” : os imaturos, que precisam de mais tempo para aprender; os que têm dificuldade específica em uma área do conhecimento; e os que, por razões diversas, não se aplicam, não estudam, embora tenham condições.
(...) recuperar significa voltar, tentar de novo, adquirir o que perdeu, e não pode ser entendido como um processo unilateral. Se o aluno não aprendeu, o ensino não produziu seus efeitos, não havendo aqui qualquer utilidade em atribuir-se culpa ou responsabilidade a uma das partes envolvidas. Para recobrar algo perdido, é preciso sair à sua procura e o quanto antes melhor: inventar estratégias de busca, refletir sobre as causas, sobre o momento ou circunstâncias em que se deu a perda, pedir ajuda, usar uma lanterna para iluminar melhor. Se a busca se restringir a dar voltas no mesmo lugar, provavelmente não será bem sucedida.
(...) O compromisso da Escola não é somente com o ensino, mas principalmente com a aprendizagem. O trabalho só termina quando todos os recursos forem usados para que todos os alunos aprendam. A recuperação deve ser entendida como uma das partes de todo o processo ensino-aprendizagem de uma escola que respeite a diversidade de características e de necessidades de todos os alunos.
(...) Dentro de um projeto pedagógico consistente, a recuperação deve ser organizada para atender aos problemas específicos de aprendizagem que alguns alunos apresentam, e isso não ocorre em igual quantidade em todas as matérias nem em épocas pré-determinadas no ano letivo. A recuperação da aprendizagem precisa: - ser imediata, assim que for constatada a perda, e contínua; ser dirigida às dificuldades específicas do aluno; abranger não só os conceitos, mas também as habilidades, procedimentos e atitudes.
(...) A recuperação paralela deve ser preferencialmente feita pelo próprio professor que viveu com o aluno aquele momento único de construção do conhecimento. Se bem planejada e baseada no conhecimento da dificuldade do aluno, é um recurso útil.”

Parecer CEE nº 451/98 - 30/7/98

D.O.E. de 01/08/98, páginas 18 e 19, seção I

"a expressão '...rendimento escolar...' , que se encontra no inciso V do artigo 24 da Lei 9.394/96, se refere exclusivamente a aprendizagem cognitiva? Resposta: Não. A legislação sobre avaliação/verificação do rendimento escolar, sobretudo o referido artigo, não restringe a expressão "rendimento escolar" exclusivamente à aprendizagem cognitiva.

A lei 9.394/96, ao tratar da educação básica, situou-a no quadro de abertura que permitiu, aos que dela fossem cuidar, em seus diferentes níveis e modalidades, a pensasse como um todo e a explicitasse, nos limites do seu texto, em sua proposta pedagógica e em seu regimento. Na elaboração dessa proposta e desse regimento, consubstanciado certamente numa visão de homem, de sociedade e, por conseqüência, numa concepção de educação e de avaliação, cuidados especiais deverão ser tomados para que estejam contidos, nesses instrumentos, procedimentos referentes ao processo ensino-aprendizagem, e em particular ao de verificação do rendimento escolar.

O legislador deixou sob a responsabilidade da escola e de toda sua equipe a definição do projeto de educação, de metodologia e de avaliação a serem desenvolvidas. Abandonou detalhes para agarrar-se ao amplo, ao abrangente. Aponta, por isso, para uma educação para o progresso, onde estudo e avaliação devem caminhar juntos, esta última como instrumento indispensável para permitir em que medida os objetivos pretendidos foram alcançados. Educação vista como um processo de permanente crescimento do educando, visando seu pleno desenvolvimento, onde conceitos, menções e notas devem ser vistos como mero registros, prontos a serem alterados com a mudança de situação. E, nessa busca do pleno desenvolvimento e do processo do educando, estão presentes outros objetivos que não só os de dimensão cognitiva mas os de natureza sócio-afetiva e psicomotora, que igualmente precisam ser trabalhados e avaliados. O cuidado deve estar é no uso que se pode fazer desta avaliação, não a dissociando da idéia do pleno desenvolvimento do indivíduo."

Lei nº 10.172 de 9 de janeiro de 2001 - Plano Nacional de Educação

Capítulo 8 - Da Educação Especial

8.2 - Diretrizes

A educação especial se destina a pessoas com necessidades especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física, sensorial, mental ou múltipla, quer de características como de altas habilidades, superdotação ou talentos.

(...) A integração dessas pessoas no sistema de ensino regular é uma diretriz constitucional (art. 208, III), fazendo parte da política governamental há pelo menos uma década. Mas, apesar desse relativamente longo período, tal diretriz ainda não produziu a mudança necessária na realidade escolar, de sorte que todas as crianças, jovens e adultos com necessidades especiais sejam atendidos em escolas regulares, sempre que for recomendado pela avaliação de suas condições pessoais. Uma política explícita e vigorosa de acesso à educação, de responsabilidade da União, dos Estados e Distrito Federal e dos Municípios, é uma condição para que às pessoas especiais sejam assegurados seus direitos à educação.
Tal política abrange: o âmbito social, do reconhecimento das crianças, jovens e adultos especiais como cidadãos e de seu direito de estarem integrados na sociedade o mais plenamente possível; e o âmbito educacional, tanto nos aspectos administrativos (adequação do espaço escolar, de seus equipamentos e materiais pedagógicos), quanto na qualificação dos professores e demais profissionais envolvidos.
O ambiente escolar como um todo deve ser sensibilizado para uma perfeita integração. Propõe-se uma escola integradora, inclusiva, aberta à diversidade dos alunos, no que a participação da comunidade é fator essencial. Quanto às escolas especiais, a política de inclusão as reorienta para prestarem apoio aos programas de integração.

(...) Requer-se um esforço determinado das autoridades educacionais para valorizar a permanência dos alunos nas classes regulares, eliminando a nociva prática de encaminhamento para classes especiais daqueles que apresentam dificuldades comuns de aprendizagem, problemas de dispersão de atenção ou de disciplina. A esses deve ser dado maior apoio pedagógico nas suas próprias classes, e não separá-los como se precisassem de atendimento especial.

Parecer CNE/CEB nº 17/2001

Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001

“O quadro das dificuldades de aprendizagem absorve uma diversidade de necessidades educacionais, destacadamente aquelas associadas a: dificuldades específicas de aprendizagem como a dislexia e disfunções correlatas; problemas de atenção, perceptivos, emocionais, de memória, cognitivos, psicolingüísticos, psicomotores, motores, de comportamento; e ainda há fatores ecológicos e socioeconômicos, como as privações de caráter sociocultural e nutricional.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

NATAL: ALEGRIA OU NOSTALGIA?

O Natal foi profanizado, o natal foi capturado, arrancaram o natal das nossas mãos. Esta é a verdade. O Natal foi seqüestrado, ele foi arrancado do seu lugar; ele foi desvirtuado do seu sentido, seja ele pelo comércio, seja pelo coração, pelo seu consumismo ou pelo sentimentalismo. E muitas vezes, sob o pretexto da tradição. A ótica foi subvertida e nem nos demos conta disso; tanto que, à nossa maneira espontânea, viver o Natal, cedeu o lugar a passar o Natal. É assim que a gente pergunta: “Onde você vai passar o Natal?” Nem criticamos mais essa expressão que é muito sintomática. É passar o natal. Porque o natal é algo que passa, e não fica. A ótica foi subvertida, enganaram-nos. E continuam nos enganando. Lavaram a nossa cabeça com essa impostura. E o pior de tudo é que nos preparamos para permanecer na véspera, e não para viver o dia. A gente celebra a véspera do natal, e no dia, estamos mortos, estafados, de ressaca e esgotados. Esta é a pergunta: “Com quem vai passar o Natal?” E quase nunca perguntamos com que, ou onde, ou como eu vou celebrar o Natal. A preparação do natal costuma trazer, também, por vezes, o sabor de um período angustiante, de um período estafante, com inúmeras e dispendiosas providências: cartões a enviar, presentes, roupa a preparar, casa para enfeitar e ceia para organizar. É tanto item da lista convencional dos preparativos que não damos conta. Somos compelidos a darem presentes, esquecendo-nos, no mais das vezes, de nos fazer presentes, que é o que mais importa. Ou seja, costumamos dar presente àqueles que mais tem, despreocupados daqueles que nunca os tem, nunca os recebem. Não percebemos que nós vamos perdendo. Já temos perdido muito da nossa liberdade, nós somos usados. Nossos sentimentos, nossos desejos bons mais profundos, pessoais, famílias, foram sendo escamoteados, foram sendo desvirtuados, nós chegamos no Natal dissipado, esgotados, despreparados interiormente e não tiramos o fruto do Natal. É por isso que o Natal passa. E passa mesmo, e não fica.


Padre Luiz Fernando Klein, sj

sábado, 26 de novembro de 2011

ALGUNS PONTOS SOBRE A MISSA.

LEITURA PARA REFLEXÃO.

CIC-§1324: A Eucaristia é "fonte e ápice de toda a vida cristã”. "Os demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa."
De fato, sabemos que se entende por "missa de cura e libertação" algumas missas onde são introduzidos gestos e orações que não são previstos no Missal (Livro onde está todo o ritual da Santa Missa)
Precisamos então analisar e entender se é permitido essa alteração ou esse acréscimo, e para isso não usarei de minhas palavras, nem palavras de alguma outra pessoa falível, mas sim as Palavras da Santa Igreja Católica à qual todos nós (leigos, padres e bispos) devemos obediência total:
Então o Concílio adiciona a advertência: "Por isso, ninguém mais, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica". (Sacrosanctum Concilium nº 22)"
"A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios. O apóstolo Paulo teve de dirigir palavras ásperas à comunidade de Corinto pelas falhas graves na sua celebração eucarística, que tinham dado origem a divisões e à formação de facções (cf. 1 Cor 11, 17-34). Actualmente também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração da Eucaristia. O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja. (Ecclesia de Eucharistia, nº 52)"
Caso isso não baste para entender que nada, nem sequer uma vírgula, pode ser alterado no rito da Santa Missa, cito ainda um outro documento mais recente (2004) denominado Redemptionis Sacramentum, escrito para a exclusiva finalidade de corrigir erros litúrgicos que aconteciam nas celebrações, não apenas no Brasil, mas em vários outros lugares do mundo.
Quem pode "alterar" algo na liturgia?
A ordenação da sagrada Liturgia é da competência exclusiva da autoridade eclesiástica; esta reside na Sé apostólica e, na medida que determine a lei, no Bispo» (Redemptionis Sacramentum, nº 14)
[...]para que nunca seja considerada a liturgia como «propriedade privada, nem do celebrante, nem da comunidade em que se celebram os Mistérios».(Redemptionis Sacramentum nº 38)
O Papa Paulo VI já dizia, em 1972 sobre essas alterações na liturgia, e referia-se a elas como a "Fumaça de Satanás na Igreja", recomendo a leitura do artigo completo sobre isso (Cardeal Noé explica a Fumaça de Satanás na Igreja).
Também recomendo a leitura de um outro artigo (O povo de Deus tem o direito de que a liturgia seja celebrada como a Igreja quer". (Francis Cardinal Arinze))
Enfim, creio que tenha ficado claro que essa "mudança" na liturgia, assim como qualquer outra mudança (por menor que seja) não é lícita e trata-se de uma forma clara de desobediência ao sacramento.
Quanto a entender porque se celebram "missas de cura" em vários lugares do país, sejam paróquias, sejam os "rincões" da nossa pátria amada, recomendo a leitura de um artigo do Padre Paulo Ricardo, explicando sobre a atual Doença da Igreja no Brasil.
Do mais, além de saber que essas modificações (não autorizadas, e, portanto ilícitas) são conseqüências de uma crise que a Igreja hoje sofre, explicar o motivo pessoal que leva uma determinada pessoa a desobedecer a Igreja e fazer essas missas, assim como as "missas afro", "missa da macumba", "missa dançante", "missa com consagração de chimarrão e biscoito" ou qualquer outra aberração que acontece Brasil afora, é algo vago que foge à nossa análise, e qualquer juízo a respeito de um caso concreto não passaria de juízo temerário.
Eu, particularmente, sempre que presencio alguma modificação no Rito da Santa Missa, imagino que o sacerdote não sabe que está fazendo errado, e nem do mal que causa aos fiéis celebrando indignamente; pois, se assim for, o mal é menor, já que não há desrespeito a Cristo presente na Eucaristia, mas apenas uma conseqüência inevitável da má formação do sacerdote, o qual, nesses casos, é isento de culpa e portanto, isento de pecado.

A Instrução Redemptionis Sacramentum.

Sobre Alguns Aspectos que se Deve Observar e Evitar Acerca da Santíssima Eucaristia.

VATICANO; A instrução Redemptionis Sacramentum, descreve detalhadamente como se deve celebrar a Eucaristia e o que pode ser considerado "abuso grave" durante a cerimônia. Aqui lhes oferecemos um resumo das normas que o documento recorda a toda a Igreja.

No Capítulo I sobre a “ordenação da Sagrada Liturgia” afirma que:
Compete à Sé Apostólica ordenar a sagrada Liturgia da Igreja universal, editar os livros litúrgicos, revisar suas traduções a línguas vernáculas e vigiar para que as normas litúrgicas sejam fielmente cumpridas.
Os fiéis têm direito a que a autoridade eclesiástica regule a sagrada Liturgia de forma plena e eficaz, para que nunca seja considerada a liturgia como propriedade privada de alguém.
O Bispo diocesano é o moderador, promotor e custódio de toda a vida litúrgica. A ele corresponde dar normas obrigatórias para todos sobre matérias litúrgicas, regulares, dirigir, estimular e algumas vezes também repreender.
Compete ao Bispo diocesano o direito e o dever de visitar e vigiar a liturgia nas igrejas e oratórios situados em seu território, também aqueles que sejam fundados ou dirigidos pelos citados institutos religiosos, se os fiéis recorrem a eles de forma habitual.
Todas as normas referentes à liturgia, que a Conferência de Bispos determine para seu território, conforme as normas do direito, devem se submeter a recognitio da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, sem a qual, carecem de valor legal.
No Capítulo II sobre a “participação dos fiéis leigos na celebração da Eucaristia”, estabelece que:
A participação dos fiéis leigos na celebração da Eucaristia, e nos outros ritos da Igreja, não pode ser equivalente a uma mera presença, mais ou menos passiva, mas deve ser valorizada como um verdadeiro exercício da fé e da dignidade batismal.
A força da ação litúrgica não está na mudança freqüente dos ritos, mas, verdadeiramente, em aprofundar na palavra de Deus e no mistério que se celebra.
Entretanto, não se diz necessariamente que todos devam realizar outras coisas, em sentido material, além dos gestos e posturas corporais, como se cada um tivesse que assumir, necessariamente, uma tarefa litúrgica específica; embora convenha que se distribuam e realizem entre várias pessoas as tarefas ou diversas partes de uma mesma tarefa.
Alenta a participação de leitores e acólitos que estejam devidamente preparados e sejam recomendáveis por sua vida cristã, fé, costumes e fidelidade ao Magistério da Igreja.
Recomenda a presença de crianças ou jovens coroinhas que realizem algum serviço junto ao altar, como acólitos, e recebam uma catequese conveniente, adaptada a sua capacidade, sobre esta tarefa. A esta classe de serviço ao altar podem ser admitidas meninas ou mulheres, segundo o parecer do Bispo diocesano e observando as normas estabelecidas.
No Capítulo 3, sobre a “celebração correta da Santa Missa” especifica sobre:
A matéria da Santíssima Eucaristia
O pão a ser consagrado deve ser ázimo, apenas de trigo e feito recentemente. Não podem ser usadas cereais substâncias diferentes do trigo. É um abuso grave introduzir em sua fabricação frutas, açúcar ou mel.
As hóstias devem ser preparadas por pessoas honestas, especialistas na elaboração e que disponham dos instrumentos adequados.
As frações do pão eucarístico devem ser repartidas entre os fiéis, mas quando o número deste excede as frações deve-se usar hóstia pequenas.
O vinho do Sacrifício deve ser natural, do fruto da videira, puro e sem corromper, sem mistura de sustâncias estanhas. Na celebração deve ser misturado com um pouco de água. Não deve ser admitida, sob nenhum pretexto, outra bebida de qualquer gênero.

A Oração Eucarística
Só podem ser utilizadas as Orações Eucarísticas do Missal Romano ou as aprovadas pela Sé Apostólica. Os sacerdotes não têm o direito de compor orações eucarísticas, mudar o texto aprovado pela Igreja, nem utilizar outros, compostos por pessoas privadas.
É um abuso que algumas partes da Oração Eucarística sejam pronunciadas pelo diácono, por um ministro leigo, bem como por um só ou todos os fiéis juntos. A Oração Eucarística deve ser pronunciada em sua totalidade, e somente, pelo sacerdote.
O sacerdote não pode partir a hóstia no momento da consagração.
Na Oração Eucarística não se pode omitir a menção do Sumo Pontífice e do Bispo diocesano.
As outras partes da Missa
Os fiéis têm o direito de ter uma música sacra adequada e idônea e que o altar, os paramentos e os panos sagrados, segundo as normas, resplandeçam por sua dignidade, nobreza e limpeza.
Os textos da Liturgia não podem ser mudados.
A liturgia da palavra não pode ser separada da liturgia eucarística, nem celebradas em lugares e tempos diferentes.
A escolha das leituras bíblicas deve seguir as normas litúrgicas. Não está permitido omitir ou substituir, arbitrariamente, as leituras bíblicas prescritas nem mudar as leituras e o salmo responsorial com outros textos não bíblicos.
A leitura evangélica fica reservada ao ministro ordenado. Um leigo, ainda que seja religioso, não deve proclamar a leitura evangélica na celebração da Missa.
A homilia nunca poderá ser feita por um leigo. Tampouco os seminaristas, estudantes de teologia, assistentes pastorais nem qualquer membro de alguma associação de leigos.
A homilia deve iluminar desde Cristo os acontecimentos da vida, sem esvaziar o sentido autêntico e genuíno da Palavra de Deus, por exemplo, tratando apenas de política ou de temas profanos, ou usando como fonte idéias que provém de movimentos pseudo-religiosos.
Não se pode admitir um “Credo” ou Profissão de fé que não encontre nos livros litúrgicos devidamente aprovados.
As oferendas, além do pão e do vinho, também podem compreender outros dons. Estes últimos devem ser colocados em um lugar conveniente, fora da mesa eucarística.
A paz deve ser dada antes de distribuir a sagrada Comunhão, lembrando que esta prática não tem um sentido de reconciliação nem de perdão dos pecados.
Sugere-se que o gesto da paz seja sóbrio e seja dado apenas aos mais próximos. O sacerdote pode dar a paz aos ministros, permanecendo no presbitério. Para não alterar a celebração e do mesmo modo se, por uma boa causa, deseja dar a paz a alguns fiéis. O gesto de paz é estabelecido pela Conferência de Bispos, com o reconhecimento da Sé Apostólica, “segundo a idiossincrasia e os costumes do lugar”.
A fração do pão eucarístico deve ser feita somente pelo sacerdote celebrante, ajudado, se for o caso, pelo diácono ou por um concelebrante, mas nunca por um leigo. Esta começa depois de dar a paz, enquanto se diz o “Cordeiro de Deus”.
É preferível que as instruções ou testemunhos expostos por um leigo sejam feitas fora da celebração da Missa. Seu sentido não deve ser confundido com a homilia, nem suprimi-la.
União de vários ritos com a celebração da missa.
Não se permite a união da celebração eucarística com outros ritos quando o que será acrescentado tem um caráter superficial e sem importância.
Não é lícito unir o Sacramento da Penitência com a Missa e fazer uma única ação litúrgica. Entretanto, os sacerdotes, independentemente dos que celebram a Missa, sim podem escutar confissões, inclusive nos mesmo lugar onde se celebra a Missa. Isto deve ser feito de maneira adequada.
A celebração da Missa não pode ser intercalada como acrescentado a uma ceia comum, nem se unir com qualquer tipo de banquete. A Missa não deve ser celebrada, salvo por uma grave necessidade, sobre uma mesa de jantar, ou na sala de jantar, ou no lugar que seja utilizado para uma recepção, nem em qualquer sala onde haja alimentos. Os participantes da Missa não podem sentar-se à mesa durante a celebração.
Não está permitido relacionar a celebração da Missa com acontecimentos políticos ou mundanos, ou com outros elementos que não concordem plenamente com o Magistério.
Não se deve celebrar a Missa pelo simples desejo de ostentação ou celebrá-la segundo o estilo de outras cerimônias, especialmente profanas.
Não devem ser introduzidos ritos tirados de outras religiões na celebração da Missa.
No capítulo 4, sobre a “Sagrada Comunhão”, é apresentada disposições como:
Estando em consciência de estar em pecado grave, não se deve celebrar nem comungar sem antes recorrer à confissão sacramental, a não ser que seja por um motivo grave e não haja oportunidade de confessar-se.
Deve-se vigiar para que não se aproximem à sagrada Comunhão, por ignorância, os não católicos ou, até mesmo, os não cristãos.
A primeira Comunhão das crianças deve ser sempre precedida da confissão e absolvição sacramental. A primeira Comunhão sempre deve ser administrada por um sacerdote e nunca fora da celebração da Missa.
O sacerdote não deve prosseguir a Missa até que tenha terminado a Comunhão dos fiéis.
Somente onde a necessidade o requer, os ministros extraordinários podem ajudar o sacerdote celebrante.
Pode-se comungar de joelhos ou de pé, segundo estabeleça a Conferência de Bispos, com a confirmação da Sé Apostólica.
O fiel tem sempre direito a escolher se desejam receber a Comunhão na boca, mas se o que vai comungar quiser receber o Sacramento na mão, a Comunhão deve ser dada.
Se existe perigo de profanação, o sacerdote não deve distribuir aos fiéis a Comunhão na mão.
Os fiéis não devem tomar a hóstia consagrada nem o cálice sagrado por si mesmo, muito menos passá-los entre si de mão em mão.
Os esposos, na Missa matrimonial, não devem administrar-se de modo recíproco a sagrada Comunhão.
Não deve ser distribuída de maneira de Comunhão, durante a Missa, ou antes, dela, hóstias não consagradas, outros comestíveis ou não comestíveis.
Para comungar, o sacerdote celebrante ou os concelebrante não devem esperar que termine a comunhão do povo.
Se um sacerdote ou diácono entrega aos concelebrante a hóstia sagrada ou o cálice, não deve dizer nada, quer dizer, não pronuncia as palavras “o Corpo de Cristo” ou “o Sangue de Cristo”.
Para administrar aos leigos a Comunhão sob as duas espécies, devem levar em conta, convenientemente, as circunstâncias, sobre as quais devem julgar em primeiro lugar os Bispos diocesanos.
Deve excluir totalmente a administração da Comunhão sob as duas espécies quando exista perigo, até mesmo pequeno, de profanação.
A comunhão não deve ser administrada com cálice aos leigos onde: 1) seja tão grande a quantidade de vinho para a Eucaristia e exista o perigo de que sobre tanta quantidade de Sangue de Cristo, que deva ser consumida no final da celebração»; 2) o acesso ordenado ao cálice só seja possível com dificuldade; 3) seja necessária tal quantidade de vinho que seja difícil poder conhecer sua qualidade e proveniência; 4) quando não esteja disponível um número suficiente de ministros sagrados nem de ministros extraordinários da sagrada Comunhão que tenham a formação adequada; 5) onde uma parte importante do povo não queira participar do cálice por diversos motivos.
Não se permite que o comungantes molhe por si mesmo a hóstia no cálice, nem recebe na mão a hóstia molhada. A hóstia que a ser molhada deve ser feita de matéria válida e estar consagrada. Está absolutamente proibido o uso de pão não consagrado ou de outra matéria.
No capítulo 5, sobre “outros aspectos que se referem à Eucaristia”, esclarece que:
A celebração eucarística deve ser feita em lugar sagrado, a não ser que, em algum caso particular, a necessidade exija outra coisa.
Nunca é lícito a um sacerdote celebrar a Eucaristia em um templo ou lugar sagrado de qualquer religião não cristã.
Sempre e em qualquer lugar é lícito aos sacerdotes celebrar o santo sacrifício em latim.
É um abuso suspender de forma arbitrária a celebração da Santa Missa em favor do povo, sob o pretexto de promover o “jejum da Eucaristia”.
Reprova-se o uso de copos comuns ou de escasso valor, no que se refere à qualidade, ou carentes de todo valor artístico, ou simples recipientes, ou outros copos de cristal, cerâmica, e outros materiais, que podem quebrar facilmente.
A vestimenta própria do sacerdote celebrante é a casula revestida sobre o alva e a estola. O sacerdote que se reveste com a casula deve colocar a estola.
Reprova-se o não uso das vestimentas sagradas, ou vestir apenas a estola sobre o cíngulo monástico, ou o hábito comum dos religiosos, ou a vestimenta comum.
No capítulo 6, o documento trata sobre “a reserva da Santíssima Eucaristia e seu culto fora da Missa”. E nos lembra que:
O Santíssimo Sacramento deve ser reservado em um sacrário, na partes mais nobres, insignes e destacadas da igreja, e no lugar mais apropriado para a oração.
Está proibido reservar o Santíssimo Sacramento em lugares que não estão sob a segura autoridade do Bispo ou onde exista perigo de profanação.
Ninguém pode levar a Sagrada Eucaristia para casa ou a outro lugar.
Não se exclui a oração do terço diante da reserva eucarística ou do santíssimo Sacramento exposto.
O Santíssimo Sacramento nunca deve permanecer exposto sem suficiente vigilância, nem sequer por um período muito curto.
É um direito dos fiéis visitar freqüentemente o Santíssimo Sacramento.
É conveniente não perder a tradição de realizar procissões eucarísticas.
O capítulo 7 versa sobre “os ministérios extraordinários dos fiéis leigos”. Ali o documento especifica que:
As tarefas pastorais dos leigos não devem assemelhar-se à forma do ministério pastoral dos clérigos. Os assistentes pastorais não devem assumir o que propriamente pertence ao serviço dos ministros sagrados.
Somente por verdadeira necessidade pode-se recorrer ao auxilio de ministros extraordinários na celebração Liturgia.
Nunca é lícito aos leigos assumir as funções ou as vestimentas do diácono ou do sacerdote, ou outras vestes semelhantes.
Se habitualmente há um número suficiente de ministros sagrados, não se podem designar ministros extraordinários da sagrada Comunhão. Em tais circunstâncias, os que foram designados para este ministério, não devem exercê-lo.
Está reprovado o costume de sacerdotes que, apesar de estar presente na celebração, abstêm-se de distribuir a comunhão, encomendando esta tarefa a leigos.
Ao ministro extraordinário da sagrada Comunhão nunca está permitido delegar a nenhum outro a administrar a Eucaristia.
O leigo tem direito a que nenhum sacerdote, a menos que exista verdadeira impossibilidade, rejeite celebrar a Missa em favor do povo, ou que esta seja celebrada por outro sacerdote, se de diferente modo não se pode cumprir o preceito de participar da Missa, no domingo e outros dias estabelecidos.
Quando falta o ministro sagrado, o povo cristão tem direito a que o Bispo, na medida do possível, procure que se realize alguma celebração dominical para essa comunidade.
É necessário evitar qualquer confusão entre este tipo de reuniões e a celebração eucarística.
O clérigo que foi afastado do estado clerical está proibido de exercer a potestade da ordem. Não está permitido celebrar os sacramentos. Os fiéis não podem recorrer a ele para a celebração.
O capítulo 8 está dedicado aos Remédios:
Qualquer católico tem direito a expor uma queixa por um abuso litúrgico, ao Bispo diocesano ou o Ordinário competente de igual direito, ou à Sé Apostólica, em virtude da primazia do Romano Pontifício.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Por que pais maltratam seus filhos?

Ao longo dos séculos, e até há bem poucos anos, as crianças eram consideradas seres de menor importância. Era de aceitação comum na sociedade o abandono, a negligência, o sacrifício e a violência contra crianças, chegando ao filicídio, declarado ou velado, que levava as taxas de mortalidade infantil, na França do século XVIII, a níveis absurdos, inacreditáveis, de sempre mais de 25% das crianças nascidas vivas.
Hoje, em muitos países, para cada mil crianças nascidas vivas, morrem menos de dez, antes de um ano de vida. Segundo Elisabeth Badinter, em Um amor conquistado - O mito do amor materno, na França daquela época raramente uma criança era amamentada ao seio da mãe. Morriam como moscas. Cerca de 2/3 delas morriam junto às amas de leite - miseráveis e mercenárias - contratadas pela família e nas casas das quais ficavam, em média, quatro anos, quando sobreviviam.
Nos asilos de Paris, mais de 84% das crianças abandonadas morriam antes de completarem um ano de vida. Ainda no século XIX era comum a roda dos expostos nos asilos - no excelente Abrigo Romão Duarte, no Rio, ainda existe uma peça dessas em exposição -, o abandono dos filhos era uma rotina aceita. Mas foi a partir do final desse século que a criança, até então estorvo inútil - porque nada produzia -, passou a ser valorizada, sob a óptica de que deveria sobreviver para ser tornar adulto produtivo.
A criança passou a ser protegida por interesses, antes de tudo econômicos e políticos, a partir da Revolução Industrial especialmente em fins do século XVIII.
As sociedades protetoras da infância surgiram na Europa entre 1865 e 1870, e eram mais recentes, e menos representativas, do que a Sociedade Protetora dos Animais.
A palavra pediatria só surgiu em 1872. De acordo com Elisabeth Badinter, os médicos, então, não tratavam as crianças. Achavam que isso era tarefa das mulheres - ou seja, das mães e amas, porque não existiam médicas. Em resumo, apesar de ainda não respeitada na sua individualidade, a criança começou a ser de alguma forma protegida há pouco mais de cem anos. Mas foi só no início do século XX, com Freud, que a criança passou a ser entendida no seu desenvolvimento psicológico.



O castigo físico como método pedagógico, porém, secularmente pregado até por filósofos da grandeza de um Santo Agostinho, continuou até nossos dias. Ainda de acordo com Elisabeth Badinter, Santo Agostinho justifica todas as ameaças, as varas, as palmatórias. "Como retificamos a árvore nova com uma estaca que opõe sua força à força contrária da planta, a correção e a bondade humanas são apenas o resultado de uma oposição de forças, isto é, de uma violência".
O pensamento agostiniano reinou por muito tempo na prática pedagógica e, constantemente retomado até o fim do século XVII, manteve, não importa o que se diga, uma atmosfera de rigidez nas famílias e nas novas escolas.
Portanto, por que pais maltratam filhos? Eu diria: antes de tudo por hábito - culturalmente aceito há séculos. É comum pai afirmarem que apanharam de seus pais e são felizes. A eles dizemos que as coisas mudaram e que, hoje, devemos buscar outras formas de educar os filhos. Educá-los e estabelecer limites, com segurança, com autoridade, mas sem autoritarismo, com firmeza, mas com carinho e afeto. Nunca com castigo físico.
A violência física contra crianças é sempre uma covardia. O maltrato, em qualquer forma, é sempre um abuso do poder do mais forte contra o mais fraco. Afinal, a criança é frágil, em desenvolvimento, e totalmente dependente física e afetivamente dos seus pais.
Nesse sentido, acredito que a palmada se insira como uma forma de reconhecimento da insegurança, da fraqueza, da incompetência, dos pais para educar seus filhos, necessitando usar a força física. Não podemos esquecer também do modelo de violência que transmitimos e perpetuamos nas relações em família, quando estabelecemos limites com violência.
Os filhos aprendem a solução de conflitos pela força - e tenderão a reproduzir esse modelo não só junto às suas famílias, mas em todas as relações interpessoais, na rua ou no trabalho. Inúmeros fatores ajudam a precipitar a violência de pais contra filhos: o alcoolismo e o uso de outras drogas, a miséria, o desemprego, a baixa auto-estima, problemas psicológicos e psiquiátricos.
Nesse entendimento, achamos que pais que maltratam seus filhos devem ser orientados sempre e tratados e punidos, se necessário.

Como alguém se torna dependente de droga?

1º) Por influência de amigos.
Uma árvore, quando gera seus pequenos frutos, sabe como protegê-los, envolvendo-os numa flor ou invólucro; á medida que cresce, o fruto vai se tornando mais exposto ao ambiente externo e, portanto, sujeito a sofrer as perturbações desse meio. Do mesmo modo, quando os pais geram seus pequenos filhos, protegem-nos e vivem ao redor deles; mas á medida que eles crescem, começam a ficar mais expostos á sociedade, às suas perturbações e influências. Freqüentemente, os adolescentes e os adultos jovens são mais susceptíveis a essas influências. Se os jovens não aprenderem a arte de pensar, não desenvolverem uma consciência crítica, não tiverem metas e sonhos, poderão ser facilmente influenciados pelos amigos que usam drogas, os quais estão pulverizados em todos os cantos da sociedade.

2º) Curiosidade ou desejo de uma nova experiência.
O que é curiosidade: é o desejo de experimentar, conhecer ou desvendar algo novo, oculto, desconhecido. Busca-se por meio da curiosidade a aventura do prazer. A curiosidade brota no cerne da alma de todo ser humano. Os cientistas, por exemplo, são curiosos incuráveis. É preciso discursar de maneira nova e profunda sobre as drogas para que os jovens tenham um conceito adequado das suas conseqüências. O foco principal desse discurso não deveria ser a tônica da fraze: "Diga não as drogas". Isto seria um desrespeito à inteligência dos jovens. Uma simples frase jamais conterá a emoção borbulhante deles por novas experiências. Proibir simplesmente, sem alimentar a inteligência com informações convincentes, estimula a curiosidade.

3ª) Conflitos Interiores.
Os conflitos interiores e, até certo ponto, a curiosidade e a influência dos amigos, estão relacionados com o deficiente processo de formação da personalidade dos jovens no ambiente familiar moderno. Esses conflitos são muitos e podem ser traduzidas por problemas sexuais, depressões, fobias, dificuldade no relacionamento social, insegurança, instabilidade emocional, etc.. Não hã pior remédio para a dor do que escondê-la, maquiá-la, anestesiá-la por meio do efeito psicotrópico das drogas.


4º) O sofrimento de rejeição.
É preciso ajudá-los, conduzi-los a perceberem que são seres humanos, independente de usarem ou não as drogas. As discriminações raciais, culturais ou de qualquer espécie é um câncer da sociedade. A dor que ela provoca é indescritível. Os que se sentem discriminados podem ter uma motivação a mais para recorrer aos efeitos das drogas como fator de compensação psíquica.

5º) Pais que não dialogam.
O diálogo torna as relações humanas um jardim. Porém, dialogar não quer dizer exatamente conversar. A crise do diálogo na atualidade é tão grande que, infelizmente, as pessoas só tem coragem de falar sobre si mesmas quando estão diante de um psiquiatra ou de um psicoterapeuta. Estamos vivendo ilhados na sociedade; nunca estivemos tão próximo fisicamente, mas tão distante interiormente; falamos de coisas que estão fora de nós e nos silenciamos tanto sobre as nossas experiências mais íntimas. Por que milhões de pessoas usam drogas? As causas são muitas, mas temos de saber que dentre elas está a solidão e a crise das relações sociais.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Na fraqueza do homem, a força de Deus

O Papa Adriano VI (1522-23) dava as seguintes instruções após o cisma de Lutero: "Dirás que reconhecemos livremente que Deus permitiu esta perseguição da Igreja por causa dos pecados dos homens, e, de modo especial, dos sacerdotes e dos prelados...A Escritura Sagrada ensina-nos com ênfase que as faltas do povo têm suas fontes nas faltas do clero...Sabemos que, mesmo na Santa Sé, anos atrás, foram cometidas abominações numerosas,abusos das coisas sagradas, transgressões dos mandamentos, de tal sorte que tudo redundou em escândalo. Quando se concluiu o Concilio de Trento, o Cardeal de Lorena,evocando a reforma protestante, exclamou: "Tendes o direito de nos perguntar qual a causa de tal tempestade acusaremos nós, irmãos Bispos?...Foi por causa de nós que esta tempestade se levantou, meus Padres. O Juízo começa pela casa do senhor (1Pd 4,17). Purifiquem-se aqueles que trazemos vazos do senhor( Is 52,1)." São Vicente de Paulo, santo como era , observava: " Foi mediante os sacerdotes que os hereges prevaleceram, o vício reinou e a ignorância estabeleceu o seu trono em meio ao povo ".
Por que a Igreja Católica, Apostólica e Romana?
A Igreja de Cristo é chamada católica, porque é universal ou destinada a todos os homens (sem distinção de raça ou classes); apostólica, porque foi fundada sobre os apóstolos escolhidos por Cristo(Ap21,14); romana, porque o Apostolo Pedro, chefe visível designado por Cristo, morreu em Roma como bispo desta cidade; em conseqüência, os seus sucessores, bispos de Roma, continuam a desempenhar as funções do primado.O título romano não nacionaliza a Igreja; é apenas o título que designa a sede do Pastor Supremo visível.Este tem que ter um referencial geográfico ou residência, como Jesus, o salvador de todos, que tinha um endereço terrestre, a saber: a cidade de Nazaré; donde o aposto "Jesus Nazareno". "Igreja Romana" e "Jesus Nazareno" são dois títulos paralelos entre si, que não restringem o âmbito do Cristianismo, mas vêm a ser genuínos ecos do mistério da Encarnação, que está no âmago da mensagem cristã.
O Papa João Paulo II tem pedido perdão repetidamente por falhas dos filhos da Igreja. É de notar que ele não menciona "falhas da Igreja", mas "falhas dos filhos da Igreja". Implicitamente retoma a distinção entre pessoa e pessoal da Igreja: pessoa seria a Igreja Corpo de Cristo, que o senhor vivifica e ao qual garante a fidelidade ao envangelho; pessoal seriam os fiéis que nem sempre obedecem às normas da Santa Mãe Igreja. O pecado está na Igreja, mas não é da Igreja; é resquício da velha criatura dentro da novidade da criatura oriunda do batismo e da inserção em Cristo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Leitor ( 6ª parte )

Dar a Vida ao texto

O tema a abordar neste texto é: o Leitor dá vida ao texto. Este texto é a Palavra de Deus, escrita ao longo de muitos séculos e que está contida na Bíblia, que é constituída por 73 livros: 46 escritos antes de Cristo, o Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, escritos depois de Cristo. De entre estes, destacam-se os 4 Evangelhos: S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas e S. João.
Grande parte dos livros da Bíblia é lida nas assembleias eucarísticas, semanais e dominicais. A primeira função do leitor, é, pode dizer-se, dar vida a esses textos, tão diferentes quanto ao conteúdo e quanto ao estilo literário, e que o leitor deve conhecer antes de ler, ou melhor proclamar, na assembleia.
Ler bem não é fácil, implica re-criar, dar vida às palavras do texto, dar voz ao autor, que é o próprio Deus, como se afirma ao terminar a leitura: Palavra do Senhor. Pode comparar-se a função do leitor à de um músico (pianista, violinista…) que, ao executar o trecho de outro compositor, não é um simples executante de notas musicais, mas imprime aos sons que se ouvem o sentido, a vida, a expressão, o sentimento que o compositor quis dar àquela peça. Ler, mais que pronunciar palavras soltas, é tornar viva uma mensagem que é de vida.
Depende muito do leitor que os ouvintes escutem ou não a Palavra e se deixem interpelar por Deus que nos fala. Contudo, não se trata só que todos ouçam, mas que entendam o que ouvem, captando a mensagem no seu sentido profundo e lhe respondam convictamente: graças a Deus…
É um ministério difícil. Por vezes a leitura não é fácil e os ouvintes nem sempre estão motivados e preparados para entender o núcleo do texto. Se, a juntar a isto, o leitor incorre em defeitos comuns: a precipitação, a má pronúncia, o tom monótono, mau uso do microfone, a pressa…, cai-se, então, no risco de a celebração da Palavra ser pouco mais que um momento da missa, rotineira e ineficaz, sem impacto algum e sem eco na mente e no coração dos que ouvem.
Por isso se insiste na necessidade de o leitor preparar sempre o que vai ler, conhecer a passagem bíblica, o seu estilo, as frases mais importantes, as expressões mais difíceis. Não bastam cinco minutos antes, mas, se possível, ter o texto em casa. Aliás com os meios de comunicação que temos ao alcance não será tão difícil assim.
Uma sugestão, que nos parece viável e que alguns leitores já fazem: ler, antes, em voz alta diante de alguém e perguntar se entendeu ou não. Pode ajuda!

O Leitor ( 5ª parte )

A Pontuação

Escrevíamos, na última edição, que um dos aspectos mais importantes a cuidar, na proclamação da Palavra de Deus, é a pontuação. Esta marca o ritmo, os silêncios, as pausas no decurso da leitura, que, por sua vez, permitem a compreensão e dão sentido às diversas frases que constituem o texto proclamado.
Pode o leitor pronunciar bem cada uma das palavras, mas se não “organizar” bem as palavras na frase, dando mais ênfase a umas do que outras, se não articular as frases entre si, o texto tornar-se-á incompreensível. Para que isto não suceda, é fundamental executar correctamente a pontuação: vírgulas, ponto e vírgula, ponto final, ponto de exclamação, de interrogação, bem como o estilo e carácter do texto: crónica, exortação, louvor…
É necessário, portanto, numa vírgula e, regra geral, no ponto e vírgula fazer-se uma pausa breve; num ponto final uma pausa mais longa; numa exclamação exclamar, admirar, louvar…o que implica uma leitura antecipada do texto; numa interrogação, que se ouça, de facto, que há uma interrogação que, nalguns casos pode ser afirmativa.
Dois exemplos: «Voltaram os setenta e dois discípulos, (pausa breve) cheios de alegria. (pausa longa)» (Lc 10,17). Fazendo mal as pausas, pode ler-se o que o texto não quer transmitir: «voltaram os setenta, e dois discípulos cheios de alegria», significa que só dois vinham alegres, o que não corresponde à verdade do texto, pois todos os 72 estavam alegres.
Também na 2ª leitura da Solenidade do Corpo de Deus, lida recentemente, a pontuação bem feita é fundamental: «Não é o pão que nós partimos a comunhão com o Corpo de Cristo?» (1Cor 10,16). A interrogação, neste caso, é mais afirmativa que interrogativa. Se em vez da interrogação fazemos um ponto final, ou uma vírgula, afirmamos precisamente o contrário do que o texto significa: que o pão que partimos não é a comunhão com o Corpo de Cristo…E S. Paulo queria dizer o contrário: que o pão que partimos é comunhão! As mesmas palavras, pontuação diferente, sentido oposto.
Muitos outros exemplos poderiam ser indicados. É fundamental, não no momento, mas antes, ler sempre o texto e entendê-lo. Se o leitor não compreende o que lê, dificilmente a assembleia perceberá.
Claro que, além das pontuações referidas, que determinam as pausas, entoações e modulações da voz, devem ter-se em conta algumas pausas mais longas: após o enunciado da leitura: «Leitura da Primeira Epístola…aos Gálatas» (pausa longa); ou: «meus irmãos» (pausa longa), ainda que conste uma vírgula e não um ponto final, bem como no final, antes de proclamar «Palavra de Senhor».
Uma sugestão: Se pegar no Leccionário e, ao acaso, ler algumas leituras, olhando bem os diversos tipos de pontuação, executar de forma correcta e depois incorrecta, o leitor confirmará o que acabámos de frisar.
Juntamente com a pontuação, fundamental para uma boa compreensão do texto.

O Leitor ( 4ª parte )

Alguns cuidados

Como se depreende de tudo o que aqui temos escrito, desempenhar bem, e de forma consciente, o ministério de leitor é exigente, não é tarefa fácil. Muito caminho se percorreu, estamos certos, mas há pormenores, aparentemente insignificantes, que podem contribuir para um melhor ou pior desempenho. Assim, deixamos breves notas sobre alguns cuidados a ter para uma melhor proclamação da Palavra
No início da leitura, o leitor não tem que dizer: primeira leitura ou segunda leitura ou, quando é lido: salmo responsorial, como o sacerdote não diz, por exemplo: homilia. O leitor enuncia com clareza o nome do livro bíblico de onde é tirada a leitura: «Leitura da Profecia da Isaías»; «Leitura dos Actos dos Apóstolos»; «Leitura da Epístola de S. Paulo aos Coríntios»…e, após breve pausa, lê.
Olhar ou não a assembleia quando se lê? Deve haver o equilíbrio entre o olhar a assembleia para quem se lê (sobretudo no enunciar da leitura e no final) e olhar o texto, partindo do princípio de que o leitor é servidor de uma Palavra que não é sua, mas de Deus, e servidor da assembleia a quem dirige a Palavra. Por isso: projecte mais a voz que o olhar, cuidando, porém, uma e outra coisa.
Ler devagar é um dos requisitos fundamentais para uma boa proclamação o que, infelizmente, nem sempre acontece. A precipitação na aproximação do ambão e a pressa com que se lê são, em nosso entender, dos defeitos mais comuns dos leitores e que é preciso evitar, para que a Palavra seja bem pronunciada, captada e entendida.
O defeito oposto à pressa é o soletrar a leitura. Não é necessário ressaltar cada sílaba com igual intensidade. Além de tornar a audição maçadora, é um impedimento à compreensão do texto. É fundamental, por isso, a leitura prévia.
Vocalizar bem é outro elemento importante. Para isso, nada de pressas, não “comer” sílabas, efectuando uma boa dicção e articulação, sem omitir nem acrescentar nada às palavras ou às frases, evitando o perigo de alterar o sentido do texto.
O silêncio é outro factor determinante para uma boa leitura. Entre o título e a leitura deve haver um breve silêncio, bem como entre o fim da leitura e a aclamação: «Palavra do Senhor». Além disso, as frases e orações do texto são ritmadas por pontuação (vírgulas, pontos finais…) e os diversos tipos de pontuação requerem diversos tipos de silêncio: mais curtos ou mais breves.
A pontuação é um dos mais importantes componentes na proclamação do texto, por isso dedicar-lhe-emos o próximo número.

O Leitor ( 3ª parte )

Conselhos para antes da leitura

O serviço do leitor não se cinge nem se esgota, como já afirmámos diversas vezes, ao estrito acto de ler, de proclamar um texto sagrado na celebração. Há um antes e um depois da leitura. Deixamos alguns conselhos pertinentes a ter em conta antes da leitura.
O serviço de leitor é eminentemente verbal. Porém, comporta igualmente alguns componentes de linguagem não verbal: gestos, posturas, para uma boa proclamação.
- O acesso ao ambão. É um gesto que deve efectuar-se de forma digna, serena, sem ruídos, esperando que o sacerdote, o salmista, o outro leitor terminem a sua função.
- A postura corporal diante da assembleia. A pessoa é por si um sinal, por isso evite-se colocar as mãos nos bolsos, os braços cruzados ou atrás das costas, a rigidez de face, o riso artificial, a teatralização. Nem excessiva timidez, nem superficialidade gestual ou de olhar. A assembleia ouve, mas também vê, isto é: também “se ouve com os olhos”.
- O leitor vestido com naturalidade. O leitor não usa, habitualmente, vestes especiais. Este, homem ou mulher, jovem ou adulto, usa o vestuário normal, sem publicidades, palavras, decorações ou formas que despertem a atenção da assembleia. Tenha-se, além disso, o bom senso para impedir qualquer reparo em ousadias desnecessárias.
- O lugar e o livro de onde se lê. É importante que o leitor se coloque visivelmente no ambão, o lugar da proclamação da Palavra, e que se veja que está a ler pelo Livro da Palavra de Deus e não por uma folha qualquer ou fotocópia. O leitor deve colocá-lo à sua medida, se necessário, pegar nele com naturalidade.
- Ajustar o microfone e a luz. Uma das deficiências mais notórias é o “quase medo” de tocar no microfone. Mas é essencial que, antes de ler, se verifique se está ou não ligado e se ajuste, como norma, a um palmo em relação à boca. O mesmo se diga se há alguma iluminação no ambão. O leitor deve colocar-se de modo a ver bem o livro e a fazer-se ouvir.
- Esperar o silêncio da assembleia. Antes de começar a ler, o leitor deve esperar que a assembleia esteja sentada, atenta, em posição de escuta. Se persiste algum ruído: pessoas a sentar-se, ou à procura de lugar, movimentações… o leitor deve esperar. Sem silêncio, de nada vale começar.

O Leitor ( 2ª parte )

Mediador e não Protagonista

Se normalmente cuidamos a maneira de transmitir as nossas palavras e mensagens humanas, com mais afinco devemos aperfeiçoar a maneira de comunicar aos outros a Palavra de Deus, enunciada nas leituras da Eucaristia.
O leitor, mais que “ler” pura e simplesmente, tem como missão “proclamar”, com o máximo de expressividade, a Palavra. Proclamar é pronunciar, promulgar diante de uma assembleia que escuta. Não é uma simples leitura pessoal, busca de informação ou explicação, mas um ministério (serviço) à assembleia celebrante.
O simples facto de ler em público para uma comunidade celebrante é, por si mesmo, um acto de culto, um serviço litúrgico, realizado com fé, por quem tem fé. Assim, uma das condições requeridas a um bom leitor é que tenha a convicção de que, no seu desempenho, ele é simplesmente – e nada mais! – um mediador entre Deus, que por ele dirige a sua Palavra, e a comunidade cristã, que a escuta e faz sua.
A palavra que o leitor transmite aos irmãos não é palavra sua, nem sequer da Igreja, mas de Deus. Ele não lê em função de si, só para si, mas executa, da parte de Deus e enviado por Ele, um serviço à comunidade. Por sua vez, Deus, comunica-se, agora, não através de revelações e de anjos, mas pelo ministério concreto de pessoas concretas: os leitores. Por meio delas a palavra faz-se realidade viva e a mensagem encarna.
O que está escrito nos livros, ainda que sejam sagrados, como é o caso das leituras bíblicas, é “letra impressa” que terá vida através da voz do que lê, da sua atitude comunicativa. Só assim o que está escrito se converte em acontecimento vivo, em Palavra de Salvação.
O leitor é como que o último elo de uma comprida cadeia de transmissão. Os profetas, os apóstolos falaram há séculos, as suas palavras foram escritas nos livros bíblicos, em seguida traduzidas, depois preparadas para as celebrações e agora é um leitor concreto quem as proclama numa determinada comunidade.
Contudo, por mais belos que sejam os escritos de Isaías, de S. Paulo, de S. João… se o leitor não os comunica com expressão, se o microfone não funciona, se há ruídos, será difícil estabelecer um diálogo vivente entre Deus e a assembleia.
Deus, normalmente, não actua nem se comunica por meio de milagres, mas serve-se da mediação humana, neste caso, de um leitor. É neste sentido que reafirmamos o que dá título a esta crónica: o leitor é Mediador e não Protagonista.

O Leitor ( 1ª parte)

O primeiro ouvinte da Palavra

Um bom Leitor é dar vida a um texto escrito, no qual está contida a Palavra de Deus. Isto requer uma preparação a vários níveis: técnico, linguístico…Tudo o que dissemos, contudo, assenta num pressuposto de índole espiritual: o leitor é o primeiro ouvinte.
O Leitor que proclama a Palavra na comunidade não exerce uma função como um carteiro que se limita a transmitir mensagens a outros, nada tendo a ver com elas. Pelo contrário, o Leitor é o primeiro destinatário da Palavra que proclama aos outros: leu-A, entendeu-A, acreditou Nela, rezou-A. Só depois estará verdadeiramente apto para a dirigir à Assembleia que tem diante de si.
Ao tomar consciência da importância do ministério que exerce, o Leitor deve estar alegre por servir, imbuído de uma atitude de convicção e profundo respeito. De facto, Deus quer falar ao seu povo e o mesmo Deus escolheu este ou aquele Leitor como seu porta-voz.
Além da preparação esmerada, o Leitor coloca-se numa atitude de fé. Em várias passagens bíblicas, por exemplo: no livro do Profeta Ezequiel capítulo 3, 3; no Apocalipse, capítulo 10, 9, numa linguagem metafórica, mas rica de sentido, Deus mandava ao profeta, o que comunicava a Palavra, que a comesse, isto é, que fizesse sua a mensagem, antes de a comunicar aos outros.
Ler na Assembleia é um importantíssimo acto litúrgico a executar com amor e espírito de serviço porque só assim a Palavra se torna viva e actual. Aqui reside a honra de Leitor, como também a sua grande responsabilidade. Se a sua voz não ressoa bem, ou não está possuído e convicto da Palavra que lê, a mensagem não passa.
Como se reza na oração de bênção dos leitores: «quando proclamais a Palavra sede, vós mesmos, dóceis ouvintes dela, conservando-a nos vossos corações e levando-a à prática, guiados pelo Espírito Santo».
O Leitor é, portanto, o primeiro ouvinte e vivente da Palavra, e só nesta convicção poderá proclamá-la como deve.

O Respeito pela Dignidade das Pessoas

O RESPEITO PELA ALMA DO PRÓXIMO: O ESCÂNDALO
O escândalo é a atitude ou comportamento que leva outrem a fazer o mal. O escandaloso transforma-se em tentador do seu próximo; atenta contra a virtude e a retidão, podendo arrastar o irmão para a morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por acção ou omissão, levar deliberadamente outra pessoa a cometer uma falta grave.
O escândalo reveste-se duma gravidade particular conforme a autoridade dos que o causam ou a fraqueza dos que dele são vítimas. Ele inspirou esta maldição a nosso Senhor: «Mas se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar» (Mt 18, 6).
O escândalo é grave quando é causado por aqueles que, por natureza ou em virtude da função que exercem, têm a obrigação de ensinar e de educar os outros. Jesus censura-o nos escribas e fariseus, comparando-os a lobos disfarçados de cordeiros.
O escândalo pode ser provocado pela lei ou pelas instituições, pela moda ou pela opinião.
É assim que se tornam culpados de escândalo os que estabelecem leis ou estruturas sociais conducentes à degradação dos costumes e à corrupção da vida religiosa, ou a «condições sociais que, voluntária ou involuntariamente, tornam difícil e praticamente impossível uma conduta cristã conforme aos mandamentos».
O mesmo se diga dos chefes de empresa que tomam medidas incitando à fraude, dos professores que «exasperam» os seus alunos, ou daqueles que, manipulando a opinião pública, a desviam dos valores morais. Aquele que usa dos poderes de que dispõe, em condições que induzem a agir mal, torna-se culpado de escândalo e responsável pelo mal que, directa ou indiretamente, favorece. «É inevitável que haja escândalos, mas ai daquele que os causa» (Lc 17, 1).

Fonte: Catecismo da Igreja Católica.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O que é Ressuscitar.

A ressurreição é uma resposta para a morte. Mas a morte é um assunto tão desagradável que a gente prefere achar que ela só é para os outros. Mesmo assim, chega até nós uma pergunta que nos atinge diretamente: "O que vem depois da morte?" "Depois da morte a gente..." Alguns acham que nós desaparecemos com a morte.
Outros dizem que ninguém sabe o que vem depois. Uns dizem que somos umas energias cósmicas, que ao morrer voltamos à energia do universo.
E pela reencarnação se diz que após a morte voltamos em diferentes corpos sucessivas reencarnações, até atingir a perfeição e não precisar mais voltar.
A fé cristã afirma que a ressurreição é uma transformação de nós, pelo poder amoroso de Deus. Assim, a morte física não é o fim, mas uma passagem ou etapa de nossa vida. Na missa dos mortos, rezamos: "Para quem crê, a vida não é tirada, mas transformada".
A ressurreição não quer dizer imortalidade da alma, que voltaria para um corpo que morreu. Ela é antes de tudo a transformação da pessoa integralmente. Transformação? Em que consiste? Sobre isso uma vez uma criança deu uma resposta genial: "Quando a gente morre, a gente passa para outra dimensão; a gente nunca vai entender direito isto enquanto não passar por ela". Esta é uma explicação interessante, mas que pode ser melhorada. A transformação final na morte física assusta, pois é desconhecida. Então, a gente não tem pressa de "passar desta para a melhor". Mas antes dessa transformação, há muitas outras que são como ensaios da ressurreição final. Nossa vida é uma história que se desenrola: estamos sempre morrendo para isto e nascendo para aquilo. A fé cristã já coloca a ressurreição quando morremos para o egoísmo e nascemos para o amor.
Essa morte também não é fácil, mas por ser diluída, às vezes a gente percebe menos. Ou então nos descuidamos de assumir e treinar a ressurreição. De fato, a ressurreição pode ser entendida como um caminho que a gente escolhe. Por isso São Paulo adverte: "Se vocês ressuscitaram com Cristo, busquem as coisas do alto". Uma condição indispensável para a ressurreição final e de cada dia é a confiança em Deus.
Pe Márcio Fabri dos Anjos. C.SS.R.
Revista de Aparecida

O CÍRIO PASCAL

É o símbolo mais destacado do Tempo Pascal. A palavra "círio" vem do latim "cereus", de cera. O produto das abelhas. O círio mais importante é o que é aceso na vigília Pascal como símbolo de Cristo – Luz, e que fica sobre uma elegante coluna ou candelabro enfeitado Círio Pascal é já desde os primeiros séculos um dos símbolos mais expressivos da vigília. Em meio à escuridão (toda a celebração é feita de noite e começa com as luzes apagadas), de uma fogueira previamente preparada se acende o Círio, que tem uma inscrição em forma de cruz, acompanhada da data do ano e das letras Alfa e Omega, a primeira e a última do alfabeto grego, para indicar que a Páscoa do Senhor Jesus, princípio e fim do tempo e da eternidade, nos alcançam com força sempre nova no ano concreto em que vivemos.
O Círio Pascal tem em sua cera incrustado cinco cravos de incenso simbolizando as cinco chagas santas e gloriosas do Senhor da Cruz. Na procissão de entrada da Vigília se canta por três vezes a aclamação ao Cristo: "Luz de Cristo. Demos graças a Deus", enquanto progressivamente vão se acendendo as velas dos presentes e as luzes da Igreja. Depois o círio é colocado na coluna ou candelabro que vai ser seu suporte, e se proclama em torno a ele, depois de incensá-lo, o solene Pregão Pascal.
Além do simbolismo da luz, o Círio Pascal tem também o da oferenda, como cera que se consome em honra a Deus, espalhando sua Luz: "aceita, Pai Santo, o sacrifício vespertino desta chama, que a santa Igreja te oferece na solene oferenda deste círio, trabalho das abelhas. Sabemos já o que anuncia esta coluna de fogo, ardendo em chama viva para glória de Deus... Rogamos-te que este Círio, consagrado a teu nome, para destruir a escuridão desta noite".
O Círio Pascal ficará aceso em todas as celebrações durante as sete semanas do tempo pascal, ao lado do ambão da Palavra, ate´a tarde do domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o tempo Pascal, convém que o Círio seja dignamente conservado no batistério. O Círio Pascal também é usado durante os batismos e as exéquias, quer dizer no princípio e o término da vida temporal, para simbolizar que um cristão participa da luz de Cristo ao longo de todo seu caminho terreno, como garantia de sua incorporação definitiva à Luz da vida eterna.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Como ir à Missa e não perder a fé.

Como ir à Missa e não perder a fé.

Bux: “No campo litúrgico, estamos frente a uma desregulação insuportável”
Por Maria helena Finessi
ROMA, terça-feira, 8 de março de 2011 (ZENIT.org) - Um enfraquecimento da fé e a diminuição do número de fiéis poderiam ser atribuídos aos abusos litúrgicos e às Missas ruins, quer dizer, às que traem seu sentido original e onde, no centro, já não está Deus, mas o homem, com a bagagem de suas perguntas existenciais.
Essa é uma idéia sustentada por Nicola Bux, teólogo e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.
Apresentado em Roma no dia 2 de março, em seu livro "Come andare a Messa e non perdere la fede" [Como ir à Missa e não perder a fé, N. do T.], Bux lança-se contra a virada antropológica da liturgia.
Bux replica a quantos criticaram Bento XVI, acusando-o de ter traído o espírito conciliar. Ao contrário – argumenta o teólogo – os documentos oficiais do Concílio Vaticano II foram traídos precisamente por essas pessoas, bispos e sacerdotes à frente, que alteraram a liturgia com “deformações ao limite do suportável”.
Participar de uma celebração eucarística pode significar, de fato, também se encontrar perante as formas litúrgicas mais estranhas, com sacerdotes que discutem economia, política e sociologia, tecendo homilias em que Deus desaparece. Proliferam os ensaios de antropologia litúrgica até reduzir a esta dimensão os próprios sinais sacramentais, “agora chamados – denuncia Bux – preferivelmente de símbolos”. A questão não é pequena: enfrentá-la implica ser tachado de anticonciliar.
Todos se sentem com o direito de ensinar e praticar uma liturgia “ao seu modo”, tanto que hoje é possível assistir, por exemplo, “à afirmação de políticos católicos que, considerando-se ‘adultos’, propõem idéias de Igreja e de moral em contraste com a doutrina”.
Entre aqueles que iniciaram esta mudança, Bux recorda Karl Rahner, quem, à raiz do Concílio, denunciava a reflexão teológica então imperante que, em sua opinião, mostrava-se pouco atenta ou esquecida da realidade do homem.
O jesuíta alemão sustentava em contrapartida que todo discurso sobre Deus brotaria da pergunta que o homem lança sobre si mesmo. Em consequência – esta é a síntese – a tarefa da teologia deveria ser falar do homem e de sua salvação, lançando as perguntas sobre si e sobre o mundo. Um pensamento teológico que, com triste evidência, foi capaz de gerar erros, o mais clamoroso dos quais é o modo de entender o sacramento, hoje já não sentido como procedente do Alto, de Deus, mas como participação em algo que o cristão já possui.
“A conclusão que Häuβling tira disso – recuerda Bux – é que o homem, nos sacramentos, acabaria por participar de uma ação que não corresponde realmente a sua exigência de ser salvo”, já que abre mão da intervenção divina. A semelhante tese “sacramental” e à derivação anexa da liturgia, responde Joseph Ratzinger, que já no dorso do volume XI, “Teologia da Liturgia”, de sua Opera omnia, escreve: “Na relação com a liturgia se decide o destino da fé e da Igreja”.
A liturgia é sagrada, de fato, se tiver sua regra. Apesar disso, se por um lado o ethos, ou seja, a vida moral, é um elemento claro para todos, por outro lado, ignora-se quase totalmente que existe também um “jus divinum”, um direito de Deus a ser adorado. “O Senhor é zeloso de suas competências – sustenta Bux –, e o culto é o que lhe é mais próprio. Em contrapartida, precisamente no campo litúrgico, estamos frente a uma desregulação”.
Sublinhando, em contrapartida, que sem “jus” o culto torna-se necessariamente idolátrico, em seu livro o teólogo cita uma passagem da “Introdução ao espírito da liturgia”, de Ratzinger, que escreve: “Na aparência, tudo está em ordem e presumivelmente também o ritual procede segundo as prescrições. E, no entanto é uma queda na idolatria (...), faz-se Deus descer ao nível próprio, reduzindo-o a categorias de visibilidade e compreensibilidade”.
E acrescenta: “trata-se de um culto feito à própria medida (...), converte-se em uma festa que a comunidade faz para si mesma; celebrando-a, a comunidade não faz mais que confirmar a si mesma”. O resultado é irremediável: “Da adoração a Deus se passa a um círculo que gira em torno de si mesmo: comer, beber, divertir-se”. Em sua autobiografia (Mi vida), Ratzinger declara: “Estou convencido de que a crise eclesial em que hoje nos encontramos depende em grande parte do colapso da liturgia”.
Para encerrar, uma sugestão e uma advertência. A primeira é relançar a liturgia romana “olhando para o futuro da Igreja – escreve Bux –, em cujo centro está a cruz de Cristo, como está no centro do altar: Ele, o sumo Sacerdote a quem a Igreja dirige seu olhar hoje, como ontem e sempre”.
A segunda é inequívoca: “se acreditamos que o Papa herdou as chaves de Pedro – conclui –, quem não o obedece, antes de tudo em matéria litúrgica e sacramental, não entra no Paraíso”.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

HISTÓRIA DE UMA PALMEIRA

                                        
Certa vez, um homem muito mal se irritou com uma palmeira nova e bela; e afim de prejudicá-la, colocou uma enorme pedra sobre a sua extremidade para que ela não crescesse, depois de alguns anos, porém, ao passar diante dela, viu que ela se tornara bem maior e mais bonita do que todas as outras à sua volta.
A pedra a forçava a palmeira a lançar suas raízes ainda mais profundas para dentro da terra, e desse modo, ela também pôde crescer bem mais alta que as demais.
É que a pedra havia se tornado um desafio para a palmeira; o mesmo se dá com as tentações, isto é, elas são um desafio para cada pessoa, elas obrigam-no a cravar nossas raízes ainda mais profundas em Deus e a depositar nossa confiança cada vez mais nele.
Porque as tentações lhe mostram que a partir de suas próprias forças, a pessoa é incapaz de dar conta delas; os conflitos constantes tornam-no interiormente mais fortes e fazem-no amadurecer como homem.
A vida humana é marcada por conflitos constantes, nós não podemos simplesmente vegetar, devemos enfrentar os ataques que a vida eventualmente nos apresenta.
As tentações, ao contrário, haverão de nos acompanhar até o fim da vida.
Quando rezamos ao senhor: ‘não nos deixeis cair em tentação!’(Mt6, 13), não estamos pedindo para não sermos tentados, uma vez que isso seria até mesmo impossível, mas pedimos para não sermos devorados pela tentação ou fazermos algo que desagrada a Deus.
É isso que quer dizer não cair em tentação.
A tentação obriga-nos a lutar, porque sem a luta não há vitória; vencer, porém, jamais é mérito nosso, nos precisamos fazer experiência de que, através da luta, Cristo age em nós e de repente, nos liberta da luta constante e nos dá uma profunda paz.
Que Deus lhe de força para que você possa superar essas tentações que atrapalha a sua vida. Amém!!!.

                   (Converse com a família sobre a mensagem.)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Maria, a Mãe de Jesus.

Maria, a Mãe de Jesus.
Maria, a mãe de Deus, é a obra-prima da missão do Filho e do Espírito.  Pela primeira vez no plano de salvação, porque o seu Espírito a preparou, o Pai encontra a Morada em que seu Filho e seu Espírito podem habitar entre os homens.  
Em Maria, o Espírito realiza o desígnio benevolente do Pai e começa a pôr os homens em comunhão com Cristo.  É pelo Espírito Santo que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus.  Sua virgindade transforma-se em fecundidade única pelo poder do Espírito e da fé.

1)      Maria na Bíblia
Maria tem na Bíblia um lugar modesto. Quando aparece é sempre em função de Cristo, e não por si mesma. Sua importância consiste justamente na intimidade das ligações com Jesus.
Na Sagrada Escritura, vemos que Maria é santa, virgem e Mãe do Salvador. Entre todas as criaturas, somente ela esteve presente nos momentos fundamentais da História da Salvação. Sua presença é discreta e, no mais das vezes, silenciosa: sempre pronta a acolher os desígnios de Deus.
            Ela assume a tarefa semelhante à de Eva e à de Abraão, tornando-se, com seu sim, acolhedora da Palavra que gerou a vida e mãe de um grande povo.

2)  Maria, Mãe de Deus 
            O Concílio de Éfeso (431) declarou que Maria é a Theotókos (Mãe de Deus). Assim, designa-se unicamente a maternidade em relação à pessoa do Filho: ela não é genitora da divindade, mas sim geradora do Verbo Encarnado.
            Reconhecer que Maria como Mãe de Deus significa professar que Jesus, o carpinteiro de Nazaré, o crucificado, é Filho de Deus e Deus ele mesmo. Ele é ao mesmo tempo humano e divino. Em sua pessoa, é Deus mesmo que vive e age em carne humana. Assumindo a nossa natureza, Deus nos mostrou a importância que tem o nosso corpo dentro de seu plano. O rosto de Deus Encarnado foi formado da carne de uma mulher, conferindo uma dignidade imensa a cada ser humano.
            O Reino de Deus “já está no meio nós(Lc 17,21; Mt 4,17). Deus já está dentro da história e é um dos nossos, tendo assumido tudo, menos o pecado. Maria é aquela que, em nosso nome, colaborou para que isso acontecesse.

3) Imaculada Conceição

            A Imaculada Conceição de Nossa Senhora (ou seja, concepção sem mácula, sem mancha) refere-se ao privilégio que ela recebeu: foi preservada do pecado original desde o primeiro momento de sua existência. Por isso, foi livre também da inclinação ao pecado pessoal, desde o início de sua existência e ao longo de toda a sua vida.
            A razão dessa graça excepcional reside na vocação que recebeu – a mais sublime das vocações: ser Mãe do Filho de Deus. Seu privilégio não reside, pois, em seus próprios méritos, mas nos merecimentos que Jesus Cristo adquiriria para a humanidade.
Duas passagens bíblicas estão no fundamento dessa verdade de fé:
-Gn 3,15: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Cristo e Maria são inimigos do demônio. Como poderia a Mãe do Filho de Deus ficar sob o seu domínio, mesmo que por um breve momento? Como poderia Jesus ter nascido de uma mulher sujeita ao pecado?
            - Lc 1,28:Entrando, o anjo disse-lhe: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Maria está repleta da graça de Deus. Estando totalmente possuída por Deus, não havia, em seu coração, espaço para o pecado.
Não há na Bíblia uma afirmação explícita que Maria tenha sido concebida sem pecado original. Trata-se de uma verdade que foi ganhando corpo na vida da Igreja ao longo da história.
A doutrina da Imaculada Conceição não foi aceita por todos, nem em todos os tempos. Houve quem dissesse que Maria, uma vez fazendo parte da humanidade, teria ela também o pecado original, do qual ficou livre depois da Redenção de Cristo.
Coube ao teólogo Duns Scoto (+ 1308) dar a resposta que passaria a orientar a teologia: Maria foi preservada do pecado original em previsão dos méritos de Cristo. Isto é, não fosse essa graça especial, também ela teria tido o pecado original: “Convinha que Deus fizesse a exceção; podia fazê-la; portanto a fez!”. Convinha: como ficaria sujeita ao pecado aquela que veio para gerar Jesus Cristo, o libertador do pecado? Podia: “Nada é impossível para Deus!” Ele sabia que seu Filho derramaria o seu sangue para a salvação de todos. Podia, pois, aplicar nela, antecipadamente, os merecimentos ele obteria para a humanidade. E o fez: Maria foi preservada de todo o pecado (A definição oficial, dogmática, feita por Pio IX, em 8/12/1854 – cf. DS 2803-2804).
Assim como Cristo é chamado de “Novo Adão”, ela também é designada como a “Nova Eva”. Eva, criada na perfeição, sem pecado original, ainda assim disse não a Deus, utilizando mal a sua liberdade. Maria, no entanto, confia no Senhor e coloca a sua liberdade à disposição dos Seus desígnios: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Vossa Palavra”.
            Em relação a Maria, os cristãos não devem somente devotar admiração: ela é, principalmente, um modelo a imitar. É fonte de santidade para a Igreja: também nós, à medida em que crescemos na santidade, santificamos a Igreja.
            Assim como Maria, precisamos que Cristo nos salve. Por meio de dela o Pai nos deu o Salvador. Se Deus pôde realizar nela seu projeto, também poderá realizá-lo em nós, desde que colaboremos com a sua graça, como ela o fez. Maria é a criatura humana em seu estado melhor.

4) Virgindade Perpétua
            A Igreja reconhece a virgindade como permanente, ou seja, mantida ao longo de toda a sua vida. Podemos verificar em que se fundamenta esta fé:
·        Virgindade antes do parto: Desde os primeiros tempos da Igreja, a afirmação da concepção virginal de Jesus é encontrado em todas as sínteses de fé (credos, símbolos dos apóstolos). Essa fé se baseia no testemunho das escrituras:
Ø      (Is 7, 14) “Eis que a Virgem conceberá e dará a luz a um filho que se chamará Emanuel”. Emanuel significa Deus conosco.
Ø      (Mt 1,25) “E, sem que ele (José) a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus”.
Ø      Lc 1,26-35 “... o anjo Gabriel foi enviado por Deus (...) a uma virgem desposada com um homem que se chamava José (...). “Eis que conceberás e darás a luz a um filho (...). Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo (...); e o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus”.
·        Virgindade depois do parto: Maria, depois do nascimento de Jesus, não teve outros filhos, nem consumou seu matrimônio com José. Os chamados “irmãos de Jesus” (cf Mc 3,31; Jo 2,12; At 1,14; 1Cor 9,5; Gl 1,19) são, na verdade, seus primos ou parentes próximos. A Escritura não somente designa com o nome de Irmãos aqueles que são filhos do mesmo pai ou da mesma mãe, mas também aqueles que são parentes próximos, como tios e primos.
         A Escritura está cheia destes exemplos: Abraão chama de Irmão a Lot, seu sobrinho (Gen 11, 27; 13-8); a própria escritura diz que Lot era filho do irão de Abraão (Gen 12, 4-5). Labão também chama Jacó de irmão (Gen 29-15), quando este era seu sobrinho.

Crer na virgindade perpétua de Maria só tem sentido para aqueles que, antes, acreditam na encarnação de Deus e na realidade humano-divina de Jesus. Mas porque que Deus, para o nascimento de seu Filho, escolheu o caminho da virgindade de Maria? 

1o) Jesus não é fruto de um esforço humano, mas dom de Deus. Deus toma a iniciativa e introduz o começo de uma nova humanidade, libertada do mal. Maria pertence à humanidade, mas Jesus não é prolongamento natural da criação; é ruptura: ele vem do alto.

2o) A virgindade após o parto não nasce de um menosprezo à vida matrimonial e sexual, como muitos afirmam. Maria e José colocaram-se totalmente a serviço da missão de Jesus: não viviam para si mesmos, mas para Deus. Ambos se encontram num mistério maior do que o do encontro amoroso entre o homem e a mulher.

3o) Por meio da virgindade, Maria e José mostram total disponibilidade ao desígnio de Deus. Sua existência é integralmente centrada no serviço do Messias, vivendo isso não só no espírito, mas também no seu corpo. Com essa atitude, tornam-se exemplo para multidões que, após eles, consagrarão suas vidas ao Senhor na virgindade, imitando radicalmente a forma de vida de Cristo. Renunciarão ao matrimônio e à família, não porque os consideram negativos, mas porque querem viver totalmente para Deus e para os irmãos. Maria é também modelo para aquela que deve ser a atitude básica de cada homem e de cada mulher diante de Deus: total disponibilidade e acolhida ao seu nome. 

5) Assunção de Maria

Em seguida um grande sinal apareceu no céu: uma mulher revestida de Sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apo 12,1)
A humilde jovem de Nazaré, escolhida e preparada desde toda a eternidade por Deus para ser a Mãe de seu Filho Jesus, foi elevada em corpo e alma à glória do céu. Se hoje está “vestida de sol”, não se deve a um mérito seu ou a um resultado dos seus esforços, mas à escolha de Deus.
O conteúdo do dogma da Assunção não é novidade: esteve presente na fé do povo cristão já nos primeiros séculos, e começou a ser defendido de forma sistemática no século IV.
Em 1946, Pio XII consultou os bispos do mundo inteiro. Após estudos aprofundados e muita oração, decidiu-se sobre a da certeza sobre o Assunção. Também concluíram que seria conveniente uma declaração oficial nesse sentido: a Assunção deveria ser uma verdade revelada.
Não foi definido se Maria morreu ou não, somente que foi assunta.
E a assunção de Maria é absolutamente coerente: afinal, a corrupção espiritual e física do homem se deve ao pecado original. Sendo que Maria foi preservada do pecado original, não faria sentido que somente o seu espírito fosse livre das conseqüências do pecado, mas sim toda a sua pessoa. Ou seja, seu corpo e alma foram preservados do mal.
            A Assunção mostra o valor do corpo humano, templo do Espírito Santo. O corpo não nos é dado para ser instrumento do pecado, para a busca do prazer pelo prazer, mas para a glória de Deus.
O dogma da Assunção nos dá uma certeza: Maria foi o primeiro ser humano a alcançar a realização final. É um sinal para cada pessoa que, olhando pra ela, crê com renovada convicção no cumprimento das promessas de Deus. Como ela, somos chamados a estar, desde já, unidos à Santíssima Trindade, com coração simples e obediente.